São Paulo, quinta-feira, 05 de junho de 2008

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Barack Obama

O candidato tem a seu favor a oratória inspirada, embora superficial se examinada de perto, e a bandeira da mudança

BARACK HUSSEIN Obama será o candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Anteontem, após cinco meses de disputadíssimas prévias, o senador por Illinois finalmente atingiu o número de delegados necessários para assegurar-lhe a indicação partidária.
Ao que tudo indica, a outra postulante democrata, a senadora Hillary Rodham Clinton, pretende vender caro seu apoio ao futuro candidato. Muito se especula sobre a possibilidade de uma chapa encabeçada por Barack Obama com a ex-primeira-dama como vice.
Esse é, de fato, um cenário possível. O outro, mais próximo da tradição americana, é que Hillary faça questão de ser convidada e que Obama esteja esperando indicação clara de que ela recusará para animar-se a chamá-la. Uma chapa reunindo os dois desrespeitaria alguns preceitos da experiência política nos EUA.
Costuma-se colocar como vice uma figura que seja o antípoda das principais vulnerabilidades do candidato. No caso de Obama, a receita sugere procurar um homem branco, experiente, com base eleitoral no sul, mais para conservador e com fortes credenciais em segurança, de preferência com passado militar. Hillary representa a progressista Nova York. Embora tenha a reputação de ser firme, não está no patamar do adversário republicano, John McCain, herói de guerra, torturado pelo inimigo.
A firmeza em relação à segurança não é um item que possa ser desprezado em tempos de terror global. Especialmente num quadro em que a eleição tende a ser decidida em três "swing States" (Estados sem preferência partidária clara) moderadamente conservadores: Ohio, Pensilvânia e Flórida. Não é à toa que, em seu primeiro dia como candidato oficioso, Obama pôs-se a criticar o Irã e a reafirmar as relações especiais com Israel.
Esse tom mais centrista deverá predominar daqui em diante. O desafio de Obama agora é reunificar os democratas -incorporando os eleitores de Hillary, especialmente mulheres, latinos e trabalhadores brancos de menor instrução- e sair à caça dos republicanos desiludidos.
O candidato tem a seu favor uma oratória inspirada -ainda que superficial quando submetida a escrutínio- e uma bandeira popular: mudança. Seu aliado mais forte, entretanto, são os oito anos da desastrosa administração de Bush, avaliado como um dos presidentes mais impopulares da história, e uma recessão. É difícil que isso não pese na conta dos republicanos.
Seria um erro, entretanto, desprezar a candidatura McCain. Se há alguém na situação capaz de dissociar-se do fantasma de Bush, é o senador pelo Arizona. Corre o risco, no entanto, de os militantes mais à direita do partido não se empenharem na eleição -como o voto é facultativo, a disposição do eleitor de sair de casa e votar é decisiva nos EUA.
O senador por Illinois também tem contra si o peso eleitoral do conservadorismo. É uma incógnita se a estratégia "pós-racial" do candidato bastará para neutralizar o preconceito ainda latente em parcelas expressivas do eleitorado.
Obama já fez história ao sagrar-se candidato. Resta saber se o movimento que lidera será capaz de unificar um país dividido.


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