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Barack Obama
O candidato tem a seu favor a oratória inspirada, embora superficial se examinada de perto, e a bandeira da mudança
BARACK HUSSEIN Obama
será o candidato do Partido Democrata à Presidência dos Estados Unidos. Anteontem, após cinco meses de disputadíssimas prévias, o
senador por Illinois finalmente
atingiu o número de delegados
necessários para assegurar-lhe a
indicação partidária.
Ao que tudo indica, a outra
postulante democrata, a senadora Hillary Rodham Clinton, pretende vender caro seu apoio ao
futuro candidato. Muito se especula sobre a possibilidade de
uma chapa encabeçada por Barack Obama com a ex-primeira-dama como vice.
Esse é, de fato, um cenário possível. O outro, mais próximo da
tradição americana, é que Hillary faça questão de ser convidada e que Obama esteja esperando
indicação clara de que ela recusará para animar-se a chamá-la.
Uma chapa reunindo os dois desrespeitaria alguns preceitos da
experiência política nos EUA.
Costuma-se colocar como vice
uma figura que seja o antípoda
das principais vulnerabilidades
do candidato. No caso de Obama,
a receita sugere procurar um homem branco, experiente, com
base eleitoral no sul, mais para
conservador e com fortes credenciais em segurança, de preferência com passado militar. Hillary representa a progressista
Nova York. Embora tenha a reputação de ser firme, não está no
patamar do adversário republicano, John McCain, herói de
guerra, torturado pelo inimigo.
A firmeza em relação à segurança não é um item que possa
ser desprezado em tempos de
terror global. Especialmente
num quadro em que a eleição
tende a ser decidida em três
"swing States" (Estados sem preferência partidária clara) moderadamente conservadores: Ohio,
Pensilvânia e Flórida. Não é à toa
que, em seu primeiro dia como
candidato oficioso, Obama pôs-se a criticar o Irã e a reafirmar as
relações especiais com Israel.
Esse tom mais centrista deverá
predominar daqui em diante. O
desafio de Obama agora é reunificar os democratas -incorporando os eleitores de Hillary, especialmente mulheres, latinos e
trabalhadores brancos de menor
instrução- e sair à caça dos republicanos desiludidos.
O candidato tem a seu favor
uma oratória inspirada -ainda
que superficial quando submetida a escrutínio- e uma bandeira
popular: mudança. Seu aliado
mais forte, entretanto, são os oito anos da desastrosa administração de Bush, avaliado como
um dos presidentes mais impopulares da história, e uma recessão. É difícil que isso não pese na
conta dos republicanos.
Seria um erro, entretanto, desprezar a candidatura McCain. Se
há alguém na situação capaz de
dissociar-se do fantasma de
Bush, é o senador pelo Arizona.
Corre o risco, no entanto, de os
militantes mais à direita do partido não se empenharem na eleição -como o voto é facultativo, a
disposição do eleitor de sair de
casa e votar é decisiva nos EUA.
O senador por Illinois também
tem contra si o peso eleitoral do
conservadorismo. É uma incógnita se a estratégia "pós-racial"
do candidato bastará para neutralizar o preconceito ainda latente em parcelas expressivas do
eleitorado.
Obama já fez história ao sagrar-se candidato. Resta saber se
o movimento que lidera será capaz de unificar um país dividido.
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