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CARLOS HEITOR CONY
A cassação de JK
RIO DE JANEIRO - Com algum
atraso, vou lembrar o 45º aniversário da cassação de Juscelino Kubitschek, em junho de 1964. Logo
após o golpe daquele ano, os militares cassaram o presidente em exercício, João Goulart, e um ex-presidente, Jânio Quadros. Inicialmente, JK foi poupado.
Desde fevereiro do mesmo ano
ele fora lançado e homologado pelo
PSD como candidato na próxima
sucessão presidencial, marcada para o ano seguinte. Seria o "JK-65", tido como uma barbada eleitoral.
As forças no poder, tanto no setor
militar como no empresarial, queriam fazer de Carlos Lacerda, o
mais ostensivo propagador do golpe, não apenas um candidato, mas o
presidente da República. Era necessário limpar o terreno para isso,
tirando JK da jogada.
Em São Paulo, que na época gozava a fama (merecida) de ser a locomotiva do Brasil, teve início um
movimento para cobrar a cassação
do candidato pessedista. Castello
Branco, que havia prometido manter o calendário eleitoral e o jogo
democrático, foi pressionado pelo
então ministro da Guerra, Costa e
Silva, para ir conversar com a cúpula da conspiração. Castello reclamou que os empresários paulistas
ameaçavam boicotar o plano econômico elaborado por Octavio
Gouveia Bulhões e Roberto Campos, que daria régua e compasso para a economia nacional. Foi feita a
exigência: que Castello cassasse JK.
Todos os ministros assinariam o
ato, menos Roberto Campos.
No avião de volta para Brasília,
Costa e Silva convenceu Castello de
que era necessária a cassação, caso
contrário, a chamada revolução não
se consolidaria. Em carta a JK, o
cardeal-arcebispo de São Paulo,
dom Carlos Carmelo Vasconcelos
Mota, seu amigo desde os tempos
de Diamantina, entregou o que sabia: "Presidente, aqui está a cabeça
da hidra".
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