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ELIANE CANTANHÊDE
O inacreditável Lula
BRASÍLIA - Cai avião, sobe avião;
vem crise, vai crise; tem vaia, não
tem vaia, e algo continua imutável:
a popularidade de Lula.
Apesar de tudo que milhões sentem ou vêem todos os dias pelas
TVs, Lula mantém intactos 48% de
ótimo e bom no Datafolha. Antes,
teflon. Agora, o que dizer? Um muro? Uma barra de aço? Lula parece
imune à incompetência e à inação
do seu governo na crise aérea.
A explicação vem tanto da teoria
de especialistas quanto da prática
de pessoas simples. Minha manicure acaba de voltar do interior do
Piauí e reportou: "Lá, se você falar
mal do Lula, apanha". Por quê? A vida do povo melhorou? "Melhorou
nada. Está tudo igual. Mas todo
mundo quer o Bolsa Família e acha
que o Lula é igual a eles".
Além da paixão dos que o sentem
como "um igual a nós", Lula agrada
aos muito ricos e dividiu a academia, os jornalistas e a internet, jogando na polarização: quem está
com ele é do bem, de esquerda, a favor do povo; quem está contra o governo é da elite perversa e corrupta.
Cômico, não fosse perturbador.
A pesquisa é importante, mas não
apaga a vaia no Maracanã, a ponto
de ter de sair de fininho, sem fazer o
discurso do Pan. São dois retratos,
ambos relevantes. Lula tem popularidade sólida, mas a reação de seus
opositores é cada vez mais radicalizada. Não mexe nos índices das pesquisas, mas no clima geral. A questão não é apenas quantitativa, é
também qualitativa.
Lula se descolou do PT na crise
do mensalão e do seu próprio governo nessa interminável crise aérea. Nos dois casos, teve o mesmo
comportamento: em vez de assumir
responsabilidades, procurou culpados. "Até quando, senhor presidente?", indagou a FHC num artigo sobre o transporte aéreo em 2002.
"Até quando, senhor presidente?",
perguntamos ao próprio Lula em
2007 -e mais do que em relação à
crise área, que é um sintoma, não a
origem das doenças do governo.
elianec@uol.com.br
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