São Paulo, domingo, 05 de agosto de 2007

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ELIANE CANTANHÊDE

O inacreditável Lula

BRASÍLIA - Cai avião, sobe avião; vem crise, vai crise; tem vaia, não tem vaia, e algo continua imutável: a popularidade de Lula.
Apesar de tudo que milhões sentem ou vêem todos os dias pelas TVs, Lula mantém intactos 48% de ótimo e bom no Datafolha. Antes, teflon. Agora, o que dizer? Um muro? Uma barra de aço? Lula parece imune à incompetência e à inação do seu governo na crise aérea.
A explicação vem tanto da teoria de especialistas quanto da prática de pessoas simples. Minha manicure acaba de voltar do interior do Piauí e reportou: "Lá, se você falar mal do Lula, apanha". Por quê? A vida do povo melhorou? "Melhorou nada. Está tudo igual. Mas todo mundo quer o Bolsa Família e acha que o Lula é igual a eles".
Além da paixão dos que o sentem como "um igual a nós", Lula agrada aos muito ricos e dividiu a academia, os jornalistas e a internet, jogando na polarização: quem está com ele é do bem, de esquerda, a favor do povo; quem está contra o governo é da elite perversa e corrupta. Cômico, não fosse perturbador.
A pesquisa é importante, mas não apaga a vaia no Maracanã, a ponto de ter de sair de fininho, sem fazer o discurso do Pan. São dois retratos, ambos relevantes. Lula tem popularidade sólida, mas a reação de seus opositores é cada vez mais radicalizada. Não mexe nos índices das pesquisas, mas no clima geral. A questão não é apenas quantitativa, é também qualitativa.
Lula se descolou do PT na crise do mensalão e do seu próprio governo nessa interminável crise aérea. Nos dois casos, teve o mesmo comportamento: em vez de assumir responsabilidades, procurou culpados. "Até quando, senhor presidente?", indagou a FHC num artigo sobre o transporte aéreo em 2002.
"Até quando, senhor presidente?", perguntamos ao próprio Lula em 2007 -e mais do que em relação à crise área, que é um sintoma, não a origem das doenças do governo.

elianec@uol.com.br


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