São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Chifre em cabeça de cavalo

BRASÍLIA - Alfredo Stroessner foi ditador do Paraguai de 1954 a 1989 e não era flor que se cheirasse -que o digam suas vítimas e descendentes. Mas, ao ser chutado do poder, veio parar no Brasil, instalado cômoda e tranqüilamente na capital da República como exilado político, até morrer em 2006 de morte morrida, aos 93 anos de idade.
Isso não significa que o governo brasileiro financiasse o terror paraguaio, nem articulasse um golpe no país vizinho, nem... nem coisa nenhuma. Apenas concedeu-lhe um direito internacionalmente reconhecido: o asilo político.
Agora, há um deus-nos-acuda porque o Brasil acolhe o cidadão colombiano Olivério Medina, ex-padre que se apresenta como "embaixador" das Farc e cuja mulher, uma brasileira, trabalha no Ministério da Pesca. Entonces, pergunta-se: 1) o país que acolheu Stroessner por 17 anos não pode fazê-lo com Medina por quê? 2) nem ele nem sua mulher podem trabalhar e devem morrer de fome?
Essa discussão está fora de controle. A crítica que se deve fazer ao governo Lula é outra, por ter sido tão rápido e tão eficiente ao entregar os dois boxeadores cubanos de bandeja (ou melhor, de avião venezuelano) para o regime nada amistoso de Fidel Castro. Não por dar a Medina um status de asilado.
É como os e-mails das Farc citando brasileiros: isso não prova nada, muito menos participação na guerrilha, em contrabando de armas e cocaína, exportação de revoluções e articulações para derrubar Uribe.
Estamos carecas de saber das antigas ligações de setores da esquerda brasileira com as Farc, mas as Farc mudaram, o PT mudou, a turma do Planalto está feliz da vida com o poder. Ninguém mais fala em reformas, quanto mais em revolução em país alheio!
No máximo, pode-se falar em saídas negociadas entre Uribe e Farc, para evitar um mar de sangue. E daí? Com tantos problemas reais, é pouco para a gente ficar botando chifre em cabeça de cavalo.

elianec@uol.com.br


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