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Editoriais
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Desmatamento à vista
Os dados sobre desmatamento
na Amazônia divulgados pelo governo federal devem ser tomados
como sinal de alerta. O aumento
de 35% na destruição da floresta,
um mês antes de encerrar-se o período de medição, indica que já se
reverteu a tendência de queda.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, encarregado de fazer o monitoramento do desmate
para o Ministério do Meio Ambiente (MMA), utiliza dois sistemas baseados em imagens de satélite.
O Deter usa fotografias menos
detalhadas, mas é mais rápido e
tem a função de orientar a fiscalização, ao indicar áreas sob ameaça presente. As estatísticas oficiais
saem do Prodes, que analisa imagens de melhor resolução e só publica resultados meses depois.
As cifras ora apresentadas são
do Deter, portanto ainda precisam
ser confirmadas. Cobrem só o período de agosto de 2010 a junho
deste ano. Julho, o 12º mês, tem
muito desmate, e os dados faltantes só podem agravar a tendência.
O alarme tem endereço certo: o
Senado, que inicia o exame da polêmica versão do Código Florestal
aprovada na Câmara. Pivô da
maior derrota do governo Dilma
Rousseff no Congresso, em maio,
o novo código é acusado pelo
MMA de incentivar o desmate.
A simples expectativa de aprovação da lei levaria proprietários
rurais a intensificar a derrubada
de matas, alertavam preservacionistas. A alta dos índices de destruição reforça a hipótese, mas será difícil separar os efeitos do código e os do incentivo econômico
mais direto para a abertura de
áreas agropecuárias representado
pela alta dos preços de commodities, como grãos e carne bovina.
O Código Florestal precisa de
uma revisão, ninguém discute.
Até ambientalistas concordam
que a realidade do agronegócio
conflita com várias de suas provisões. Não se trata, contudo, de
abrir a porteira para a destruição,
mas de chegar a um regramento
moderno que concilie duas vocações óbvias do país: produção
agrícola para atender a demanda
crescente de alimentos e matérias-primas e valorização da biodiversidade contida em suas matas.
Nenhum outro país no mundo
concentra tantas vantagens comparativas, em ambos os setores,
quanto o Brasil. O Senado tem a
responsabilidade de desbastar os
exageros e desequilíbrios do novo
código, tarefa que só realizará a
contento com base no melhor conhecimento científico disponível.
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