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NELSON MOTTA
Cada macaco no seu cabo
RIO DE JANEIRO - O Ibope informa: antes de a TV Brasil incorporar a programação da TV Cultura
e das TVEs, a média de audiência
nacional dos canais estatais, puxada por raros sucessos como o "Roda
Viva", o "Castelo Rá-Tim-Bum" e o
"Sem Censura", era de 0,75%, cerca
de 178 mil espectadores. Com a TV
pública, caiu para 0,72%, 166 mil
pessoas espalhadas num Brasil de
190 milhões.
Como o orçamento da TV Brasil é
de R$ 300 milhões, além dos apoios
das estatais, a aritmética não mente: cada espectador vai custar ao
contribuinte cerca de R$ 2.000. Vale a pena? Ou é muito pouca gente
para tanto dinheiro?
Com essa dinheirama, as operadoras de TV paga poderiam fazer
um pacote anual de R$ 300, uma assinatura popular, e o Estado, tão
preocupado em oferecer qualidade
e diversidade de informação e entretenimento aos mais necessitados, poderia dar 1 milhão de assinaturas de TV para, digamos, comunidades carentes. O "Bolsa Cabo"!
Cinco milhões de brasileiros pobres
ligados no mundo. Depois da comida, diversão e arte ! Nunca antes
neste país...
É só uma piada. Mas o custo-benefício da TV pública é sério. Pelo
menos com o "Bolsa Cabo" muito
mais gente teria acesso a uma grande variedade de canais de jornalismo, filmes, ciência, história, saúde,
esportes, do mundo inteiro. As minorias estariam mais bem atendidas com a diversidade dos canais a
cabo. Iriam se divertir mais e se informariam melhor do que os escassos espectadores da TV pública, os
sem-cabo. Pergunte ao povo o que
ele prefere. O povo será cruel.
Esta é minha última coluna neste
nobre espaço da Folha de S.Paulo,
que ocupei com liberdade e independência por cinco anos. Gosto de
mudanças e de novos desafios,
agradeço aos leitores, colegas e diretores, e vamos em frente.
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