São Paulo, domingo, 05 de setembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O esporte pode mudar o Brasil

RAÍ OLIVEIRA, MAGIC PAULA, ANA MOSER e JOAQUIM CRUZ


Em 2014, as cidades-sede da Copa podem ser exemplos para o resto do país, garantindo esporte educacional em 100% de suas escolas públicas

O Brasil terá uma grande oportunidade pela frente: a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. O simples fato de hospedar esses eventos já é motivo de orgulho para o país. No entanto, eles podem significar mais que um momento inédito. É também um grande desafio.
Como atletas e brasileiros, não tememos desafios: isso nos encoraja a trabalhar para que essa oportunidade única gere resultados duradouros. E são esses resultados que chamamos de legado dos eventos esportivos.
Legado é o que esses eventos deixam ao país que os sedia. Fazem parte o impacto econômico, a geração de empregos, os estádios e toda infraestrutura construída no país.
Contudo, há outros aspectos dessa herança: os legados social, ambiental e esportivo.
A realização de um megaevento pode ser um catalisador de mudanças para uma cidade, um Estado, um país. O espectador, em termos numéricos, é um percentual pequeno em relação à sociedade anfitriã.
Os investimentos públicos ou feitos com benefícios fiscais devem retornar aos cidadãos; por isso, o legado social e ambiental trata de todo o impacto gerado no espaço urbano, incluindo educação, saúde, emprego e construções sustentáveis. Temos o exemplo de Barcelona e seu processo de reestruturação urbana, que mudou a imagem da Espanha no mundo.
Para nós, atletas, o esporte deve possibilitar a participação de todos e ajudar a construir uma sociedade inclusiva. O esporte de alto rendimento deve ser fruto da universalização da atividade esportiva e, de forma sistêmica, integrar escola, programas e federações.
O legado deve resultar em políticas efetivas, continuadas, com diagnóstico e avaliações, aumento e transparência dos recursos aplicados. É também importante termos metas concretas.
Como marco, em 2014, as cidades-sede dos eventos podem ser exemplos para o resto do país, dobrando a atividade esportiva da população e garantindo esporte educacional em 100% das escolas públicas. Em 2016, essas metas poderiam se estender para todo o Brasil.
Por isso, é preciso investir no planejamento de longo prazo e construir um sistema de informação sobre esporte. Hoje, sabemos pouco sobre a prática esportiva no país e para onde estamos indo.
O último grande levantamento foi em 2003, com a Pesquisa de Informações Básicas Municipais, que demonstrava que o pessoal dedicado à área do esporte nas prefeituras era de 1,4% e que somente 12% das escolas públicas municipais possuíam instalações esportivas.
Apenas 7,4% dos municípios tinham complexo esportivo, 67% deles concentrados na região Sudeste. E percebeu-se que a maior parte das cidades investe em futebol (95,5%), futsal (66%), vôlei (60,5%) e atletismo (43,6%).
Para lutar por um legado social e para o esporte, nós nos reunimos em uma associação, a Atletas pela Cidadania. Levamos essa pauta para o ministro da Educação e para o ministro do Esporte, e ambos se dispuseram a trabalhar por um diagnóstico sobre o esporte no país e para criar um comitê interministerial, para consolidar uma política integrada, que assegure o esporte educacional.
Além disso, o ministro Orlando Silva propôs a criação de um comitê responsável pelo legado para o esporte. Sabemos que este é só o início de um trabalho.
Queremos contribuir com esse debate, pois acreditamos que assim, jogando em equipe, podemos ajudar o país não só na conquista de medalhas mas também em seu desenvolvimento.


RAÍ OLIVEIRA, MAGIC PAULA, ANA MOSER e JOAQUIM CRUZ são diretores e membros do Grupo de Esporte da organização sem fins lucrativos Atletas pela Cidadania.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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