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CARLOS HEITOR CONY
O prato de lentilhas
RIO DE JANEIRO - "Metade das empresas consultadas no Brasil, em pesquisa do Banco Mundial (Bird), informou haver pago propinas a funcionários de governo e 67,2% avaliaram a corrupção como obstáculo importante à atividade econômica. A
confissão do crime por 51% das empresas pode ser a grande novidade,
mas outros problemas têm maior
destaque na lista das preocupações.
Insegurança quanto às políticas, por
75,9%, e condições de crédito, por
71,7%."
Transcrevo nota publicada na seção de economia do "Jornal do Commercio" aqui do Rio. Em si, a corrupção reinante não chega a ser novidade no setor das empresas. Acontece
que as pessoas físicas também são vítimas da engrenagem suja que prevalece na vida pública.
Para receber R$ 700 mil da desapropriação de um imóvel, um ex-colega de jornal teve de distribuir mais
de R$ 400 mil em diversos estágios da
burocracia, não apenas para diversas
caixinhas eleitorais mas para destinatários isolados, que, de forma direta ou indireta, cobravam pedágios
pelo caminho.
Tampouco a corrupção é coisa recente no mundo e no Brasil. É antiga,
anterior ao prato de lentilhas com o
qual Jacó subornou seu irmão em
disputa pela bênção do pai. Contudo,
nos últimos tempos, ela se tornou
mais despudorada, atingindo um estágio quase oficial, incorporada ao
orçamento de qualquer empreendimento público ou privado.
Tal como a onda de violência que
sofremos, aos poucos a sociedade está
se habituando com a corrupção. No
caso do crime organizado, periodicamente uma batida policial desbarata
uma quadrilha e prende ou mata um
criminoso que bobeou em sua segurança pessoal.
De tempos em tempos, também,
uma CPI consegue, com o apoio da
sociedade, desmantelar um esquema
sujo como o do PC Farias. Mas, olhado em conjunto, o caso que motivou o
afastamento de Collor seria ridículo
comparado com os esquemas até hoje
existentes.
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