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A governabilidade
Política nacional precisa buscar relação mais estável e menos fisiológica entre o Executivo e o Congresso
UM ASPECTO positivo da
nova e decisiva etapa
da campanha para as
eleições presidenciais
é a possibilidade de vislumbrar a
política de alianças implementada pelos candidatos. Se até o primeiro turno constavam apenas
dos planos dos estrategistas políticos, na segunda rodada essas
aproximações terão de vir à tona.
Nas próximas semanas, Luiz
Inácio Lula da Silva e Geraldo
Alckmin devem definir alianças,
prenunciando a fisionomia do
jogo político no próximo mandato. É do grau de eficiência em elaborar uma costura sólida, em
torno de uma agenda comum,
que dependerá a governabilidade do próximo presidente.
Por mais sólida que tenha sido
a hegemonia de PT e PSDB no
governo federal nos últimos 12
anos, nenhum dos partidos dispõe de representatividade suficiente para prescindir do apoio
de outras legendas. E uma sustentação coesa e estável não se
constrói sem uma ampla coalizão no Congresso Nacional.
O comportamento do PMDB
continuará sendo uma variável
crucial para a sustentação parlamentar do novo governo. Com a
maior bancada na Câmara -89
deputados eleitos no domingo-,
a sigla tende a manter o papel de
fiel da balança. Embora raramente vote em bloco, o PMDB é
decisivo na contabilidade do
Congresso e responde com ambigüidade calculada à corte já em
curso da parte de PT e PSDB.
Não se pode esquecer que as
piores práticas levadas a termo
na última legislatura envolveram a tentativa de cooptação de
aliados. O objetivo do mensalão
foi o de remunerar partidos políticos que apoiavam o governo no
Congresso. Em lugar desse tipo
de conduta -que deve ser tratada na esfera do Direito Penal, e
não na política-, é preciso fortalecer práticas de entendimento e
situar o interesse público acima
das conveniências corporativas.
A composição de blocos parlamentares previsíveis e em bases
republicanas é necessária porque, por exemplo, já no fim de
2007 será votada a prorrogação
da CPMF e a Desvinculação de
Receitas da União (DRU) -esta
permite ao governo federal alocar no serviço da dívida pública
recursos que teriam outra destinação legal obrigatória. Ambos
são itens centrais para a manutenção dos parâmetros da atual
política de contenção do déficit e
do endividamento público.
Além disso, para que se rompa
a letargia de mais de uma década
em torno da reforma tributária, a
costura de um espinhoso entendimento do novo presidente com
os governadores eleitos será necessária. Tensas negociações envolvendo partilha de impostos e,
até mesmo, pressões por uma
nova rodada de negociação das
dívidas estaduais com a União
devem entrar na pauta da política federativa no ano que vem.
Diante desses desafios -aos
quais se poderiam agregar o problema da Previdência e a reforma política-, o país só terá a ganhar se a política nacional evoluir no sentido de tornar mais nítidos, coesos e estáveis os blocos
de situação e oposição. Daí a importância deste momento da disputa presidencial, em que as
alianças estão se formando.
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