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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Dos Sarney a Tiririca
SÃO PAULO - Deve-se a Luiz Inácio
Lula da Silva a vitória em primeiro
turno da governadora Roseana Sarney (PMDB), representante da oligarquia mais longeva e característica da política brasileira. O gesto de
Lula, que obrigou o PT local a hipotecar apoio à família Sarney, foi decisivo para que Sinhá passasse raspando: 50,08% dos votos na capitania hereditária do Maranhão.
Em eventual segundo turno, que
a ação de Lula impediu, Flávio Dino
(PC do B) teria grande chance de
vencer com o apoio de Jackson Lago (PDT). Este é, sem dúvida, um
aspecto periférico do resultado eleitoral de anteontem, mas é também
revelador de um aspecto central da
liderança de Lula, que o petismo
trata com desdém ou finge ignorar.
Apadrinhado por Lula, o clã Sarney se sustenta como a verdadeira
tiririca do nosso patrimonialismo.
O palhaço Tiririca é o personagem da hora. Com 1,3 milhão de votos, o deputado federal mais votado
do país teve quase 500 mil eleitores
a mais do que Plínio Sampaio.
Fala-se aqui em "voto de protesto". Protesto contra a inteligência,
talvez. Tiririca ajudou a eleger alguns espertalhões mais espertos do
que ele, é verdade, mas não chega a
ser um problema político. Há muita
gente mais nociva no Congresso. Tiririca é, antes, um problema (ou o
sintoma de um problema) social.
Sua votação acachapante vale
como retrato da tragédia educacional brasileira. Esse é um aspecto.
Mas Tiririca já se tornou também
-esse é o outro lado da mesma tragédia- alvo de comentários odiosos contra pobres e analfabetos.
Um promotor fanfarrão aproveitou a onda de caça ao palhaço para
tentar anular o registro do candidato por suposto analfabetismo.
Ameaçou ainda submeter Tiririca a
um teste de leitura e escrita. O juiz
do caso teve o bom senso de barrar
o golpe circense do professorzinho.
Invocar o conhecimento para humilhar os que não o tem, alimentando um velho apartheid social, é
apenas uma forma de ignorância
da nossa elite pseudoilustrada.
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