São Paulo, sexta-feira, 05 de novembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

O Brasil, seu cinema e seu futuro

MANOEL RANGEL

Todos os países de economia avançada têm construído políticas públicas para lidar com a importância simbólica e cidadã do mercado audiovisual

Em outubro, o cinema brasileiro alcançou um feito histórico: mais da metade das salas foram ocupadas por filmes nacionais. Esses filmes foram responsáveis por uma participação de público e renda superior a 60%. São números inéditos, que refletem o excelente momento vivido pelo cinema brasileiro. Tal fato sinaliza que o nosso cinema é capaz de dialogar com diferentes públicos e que tem potencial para se viabilizar como uma economia sustentável.
O sucesso de "Tropa de Elite 2", do talentoso José Padilha, não representa fato isolado: a produção nacional está ocupando o mercado de forma continuada e consistente.
Isso significa que os nossos realizadores, atores e talentos necessários à realização de boas obras audiovisuais têm se desdobrado para oferecer à sociedade o melhor de si e por estar à altura do investimento feito por ela em seu cinema. Para tanto, é preciso produzir muito e de forma continuada.
Mas, por trás de toda a pujança do cinema brasileiro, há um dado indispensável: nos últimos anos, o governo, o Congresso e o setor pactuaram uma política pública que contempla todos os elos da cadeia econômica e que mira todos os segmentos de mercado.
A ação do poder público não se resume mais a autorizar a captação de renúncia fiscal: ela estimula e articula parcerias, investe diretamente e, principalmente, induz condições favoráveis à participação dos agentes privados.
Voltou a existir um projeto para o cinema brasileiro, que passa pela universalização do acesso, pelo fortalecimento das produções independentes, pela internacionalização e pela diversidade.
São filmes de maior apuro técnico e artístico, mas que não teriam o mesmo desempenho se não houvesse também o incentivo à expansão do parque exibidor, à descentralização da produção, à remoção das barreiras de entrada na televisão paga e a aposta crescente das televisões e das distribuidoras no conteúdo nacional.
A economia do audiovisual no Brasil tem todas as condições para se fortalecer: gera divisas e riquezas, oferece empregos qualificados, movimenta grandes somas de recursos e atua fortemente na formação do imaginário da sociedade.
Existem hoje no Brasil muitas empresas capazes de produzir obras de qualidade, não somente para o cinema mas também para publicidade, televisão e outras plataformas, aproveitando as oportunidades oferecidas pelas inovações tecnológicas e por novos modelos de negócios.
Tudo isso está ligado à consolidação, que está em curso, do ciclo sustentável de ocupação do mercado por obras e empresas brasileiras.
Mas nada acontece por geração espontânea: é fruto de planejamento e da indispensável cooperação e do empenho dos agentes do setor.
Somente assim será possível criar uma equação sustentável que articule o poder público e o capital privado. Felizmente, hoje já está disseminada a compreensão de que qualquer país que deseje ter um futuro no cenário mundial deve ser um grande centro produtor de audiovisual.
Não é por outro motivo que todos os países de economia avançada têm construído instrumentos de política pública para lidar com a importância econômica, simbólica e cidadã do mercado audiovisual.
O Brasil apostou nisso nos últimos dez anos. Com a crescente importância do nosso país no mundo, há muitas razões para seguir dobrando a aposta.



MANOEL RANGEL, 39, cineasta, é diretor-presidente da Ancine (Agência Nacional do Cinema). Foi presidente da Comissão Estadual de Cinema de São Paulo (2001-2002) e assessor especial do ex-ministro da Cultura Gilberto Gil (2004-2005).

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