São Paulo, sábado, 05 de novembro de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

Prévias, adeus

BRASÍLIA - A desistência de Marta Suplicy na disputa do PT para ser candidata a prefeita de São Paulo transcende à guerra interna na sigla. Trata-se de fato emblemático no processo de similarização orwelliana dos principais partidos.
Com todos os seus defeitos, o PT sempre foi a agremiação que mais tateou algum tipo de democracia interna. Em 2002, Lula só se tornou candidato a presidente depois de enfrentar Eduardo Suplicy num processo de eleição prévia da legenda.
Agora veio o dedaço de Lula a favor do ministro da Educação, Fernando Haddad, que está ungido como candidato a prefeito de São Paulo pelo PT. Nada contra nem a favor de nenhum dos postulantes petistas à vaga. Mas, ao rejeitar o processo de eleição interna, o PT não apenas dá adeus às prévias como também a uma cultura cada vez mais escassa entre os partidos políticos.
Se os partidos são a base do sistema de democracia representativa, toda vez que esses agrupamentos rejeitam uma forma transparente de escolha interna estão, ao mesmo tempo, reduzindo a sua inserção na sociedade. Por que alguém pretenderá se filiar ao PT com o sonho de ser candidato a prefeito um dia se quem manda e desmanda são só os caciques, Lula à frente?
Petistas desdenham desse raciocínio. Dizem que nos outros 28 partidos tal tipo de debate interno nunca existiu. É verdade. Mas esses mesmos petistas agora já não poderão tampouco fazer chacota com o PMDB, o PSDB e as outras legendas tradicionais. Estão todos iguais.
Pressionada pelo momento, Marta Suplicy usou um sofisma ao sair do páreo. Disse que sua presença poderia "estraçalhar a militância". O partido ficaria "absolutamente rachado, sem unidade". Se fosse assim, não existiria democracia. Ganhar e perder é parte do processo. Não mais no PT, que emula antigos adversários e assume "con gusto" o caciquismo que tanto combateu.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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