São Paulo, quinta-feira, 05 de dezembro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES O Plano Diretor em novas encruzilhadas LUIZ CARLOS COSTA
Em setembro passado, dois fatos
nos permitiram refazer a esperança
de que o Plano Diretor aprovado viesse
a colocar São Paulo no caminho da superação de seus grandes problemas. O
primeiro foi o veto da prefeita aos artigos irresponsavelmente contrabandeados para dentro do projeto aprovado. O
segundo foi a inclusão, na mesma lei, da
obrigatoriedade de haver uma segunda
fase do Plano Diretor que superasse as
lacunas subsistentes naquele projeto,
conforme em várias oportunidades pudemos propor.
Adversas, de outro lado, pelo caráter sumário da orientação metodológica proposta, pela imprecisão dos objetivos e critérios gerais do planejamento, pela indefinição dos "pontos obrigados" que decorreriam, em cada região, dos planos de transportes, habitação e uso do solo ainda não concluídos, bem como pela ausência de análises quantificadas e detalhadas das características de uso do solo, indispensáveis à definição das normas urbanísticas a adotar em zonas e subzonas. Finalmente, preocupam-nos as indefinições que subsistem (apesar de terem de ser definidas por lei) quanto ao papel das organizações de moradores e usuários na fixação das normas urbanísticas e programas que condicionarão o atendimento dos direitos dos cidadãos à moradia e aos serviços urbanos essenciais. Assim sendo, apesar do grande interesse e mobilização da sociedade civil alcançados na atual fase dos trabalhos, não há garantias do resultado do processo, sobretudo se mantidos os prazos anunciados, nem garantias de que os pleitos colocados pelas associações, entidades e movimentos serão devidamente considerados e publicamente avaliados. Embora não haja espaço aqui para analisarmos os muitos problemas e riscos decorrentes do processo em curso, é indiscutível que não se pode correr o risco de os planos regionais constituírem uma colcha de retalhos desintegrados nem o risco de se descolarem dos três planos complementares ao Plano Diretor nem o de chegar novamente a propostas insuficientes com as justificativas de que "o possível foi feito". Entendemos que a superação objetiva desses problemas dependerá de uma reprogramação muito mais clara e precisa do que a hoje disponível, essencial para a execução viável, articulada e legitimada das muitas tarefas a serem repartidas entre o Executivo, o Legislativo e a sociedade civil, na qual a universidade se situa, inclusive para definirmos o que será feito imediata e posteriormente, antes e depois de 30 de abril. A explicitação e a discussão pública desse programa constituem em si mesmas uma tarefa coletiva. Estamos certos de que, como nós, muitos dos que têm trabalhado no planejamento da cidade terão sugestões válidas para compor e viabilizar essa programação, buscando dar-lhe garantias de eficácia e democracia. Propomos, pois, que a reprogramação geral dessa segunda fase do Plano Diretor seja abertamente debatida. Luiz Carlos Costa, 67, arquiteto, é professor de planejamento urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Augusto Boal: Os três caminhos da cultura Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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