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Absolvido, de novo
Renan Calheiros se livra da cassação, e o Senado ainda deve uma resposta à crise que mergulha
a Casa em descrédito
A SESSÃO de ontem do Senado cumpriu à risca o
que estava ensaiado.
Renan Calheiros renunciou ao cargo de presidente
da Casa e recebeu a recompensa
a seguir: foi absolvido no segundo processo que chegou a plenário recomendando a cassação de
seu mandato parlamentar.
A acusação, desta feita, era a de
que o senador alagoano teria se
valido de laranjas para a compra
de duas rádios em seu Estado. O
relatório de Jefferson Péres
(PDT-AM) reconheceu a existência de indícios de que Calheiros seria sócio oculto das empresas e recomendou a perda de seu
mandato e de seu direito de candidatar-se para qualquer cargo
eletivo até 2019.
A recomendação de Péres, rejeitada por 48 senadores e apoiada por 29, se baseava em fatos e
depoimentos bem menos contundentes do que a rechaçada no
dia 12 de setembro. Aquele episódio foi o desfecho de um caso
rocambolesco, em que todas as
sucessivas explicações do senador Renan Calheiros para a origem de recursos repassados a
sua filha, a título de pensão, eram
desmentidas.
Mas tanto o resultado da sessão de setembro quanto o de ontem não tiveram relação nenhuma com o conteúdo dos processos. Foram tramados em acordos
costurados no Planalto, executados por lideranças petistas e consumados na escuridão da consciência da maioria dos senadores, abrigados no voto secreto.
É preciso reconhecer, no entanto, que o ambiente da votação
de ontem era diverso. O licenciamento de Renan Calheiros da
presidência, em 11 de outubro,
diminuiu o grau de conflito no
Senado. A teima do parlamentar
em defender-se na cadeira no
primeiro processo - valendo-se
de prerrogativas de chefe da Casa para intervir nos trâmites em
benefício próprio- transformou
uma crise política pessoal num
drama institucional.
O mergulho do Senado nesse
abismo de escândalos e desfaçatez ajudou a reforçar o descrédito da população pelo Congresso.
A parcela de eleitores (45%) que
considera o desempenho do Legislativo federal ruim ou péssimo, segundo o Datafolha, voltou
a aumentar e atingiu o mesmo
patamar do auge do mensalão.
A segunda absolvição de Renan Calheiros, mesmo sob tensão atenuada, não muda esse
quadro -pelo contrário. Mas a
eleição do seu sucessor, agendada para a quarta-feira que vem,
pode marcar um divisor de águas
na imagem do Senado. Para tanto os parlamentares precisam de
desprendimento suficiente para
trocar o jogo miúdo de cargos e
verbas por um programa de restauração da seriedade e do respeito pela cidadania.
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