São Paulo, quarta-feira, 05 de dezembro de 2007

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Absolvido, de novo

Renan Calheiros se livra da cassação, e o Senado ainda deve uma resposta à crise que mergulha a Casa em descrédito

A SESSÃO de ontem do Senado cumpriu à risca o que estava ensaiado. Renan Calheiros renunciou ao cargo de presidente da Casa e recebeu a recompensa a seguir: foi absolvido no segundo processo que chegou a plenário recomendando a cassação de seu mandato parlamentar.
A acusação, desta feita, era a de que o senador alagoano teria se valido de laranjas para a compra de duas rádios em seu Estado. O relatório de Jefferson Péres (PDT-AM) reconheceu a existência de indícios de que Calheiros seria sócio oculto das empresas e recomendou a perda de seu mandato e de seu direito de candidatar-se para qualquer cargo eletivo até 2019.
A recomendação de Péres, rejeitada por 48 senadores e apoiada por 29, se baseava em fatos e depoimentos bem menos contundentes do que a rechaçada no dia 12 de setembro. Aquele episódio foi o desfecho de um caso rocambolesco, em que todas as sucessivas explicações do senador Renan Calheiros para a origem de recursos repassados a sua filha, a título de pensão, eram desmentidas.
Mas tanto o resultado da sessão de setembro quanto o de ontem não tiveram relação nenhuma com o conteúdo dos processos. Foram tramados em acordos costurados no Planalto, executados por lideranças petistas e consumados na escuridão da consciência da maioria dos senadores, abrigados no voto secreto.
É preciso reconhecer, no entanto, que o ambiente da votação de ontem era diverso. O licenciamento de Renan Calheiros da presidência, em 11 de outubro, diminuiu o grau de conflito no Senado. A teima do parlamentar em defender-se na cadeira no primeiro processo - valendo-se de prerrogativas de chefe da Casa para intervir nos trâmites em benefício próprio- transformou uma crise política pessoal num drama institucional.
O mergulho do Senado nesse abismo de escândalos e desfaçatez ajudou a reforçar o descrédito da população pelo Congresso. A parcela de eleitores (45%) que considera o desempenho do Legislativo federal ruim ou péssimo, segundo o Datafolha, voltou a aumentar e atingiu o mesmo patamar do auge do mensalão.
A segunda absolvição de Renan Calheiros, mesmo sob tensão atenuada, não muda esse quadro -pelo contrário. Mas a eleição do seu sucessor, agendada para a quarta-feira que vem, pode marcar um divisor de águas na imagem do Senado. Para tanto os parlamentares precisam de desprendimento suficiente para trocar o jogo miúdo de cargos e verbas por um programa de restauração da seriedade e do respeito pela cidadania.


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