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CLÓVIS ROSSI
No escurinho
SÃO PAULO - O caso Renan Calheiros acaba sendo um condensado das indecências do mundo político brasileiro.
Ao assumir de público que não
tem condições políticas de presidir
o Senado, Calheiros confessa implicitamente que tampouco tem condições de ser senador. Afinal, o
exercício pleno do mandato implica
necessariamente a possibilidade de
ser presidente.
Se não pode ser presidente, não
está em condições de exercer a plenitude do mandato.
No entanto, renunciou apenas ao
cargo principal, na tentativa de se
esconder lá no escurinho da Casa,
para não ser cassado.
Ao confessar falta de condições
políticas, Calheiros está igualmente
condenando seus pares, a maioria
dos quais votou contra a sua cassação na primeira das muitas suspeitas que sobre ele pesam. Afinal, ao
absolvê-lo, estavam devolvendo-o
então à condição de presidente que
o próprio beneficiado admite, agora, não ter condições de exercer.
Reincidiram no pecado na segunda tentativa.
Como conseqüência do escândalo que foi a primeira votação, os senadores adotaram uma medida que
significa, digamos, meio decoro: a
sessão sobre a cassação é pública,
mas a votação é fechada. A alegação
-torpe- para o voto fechado é preservar o senador de pressões. Ora,
quem não é capaz de enfrentar
pressões não pode exercer um cargo público.
Homem público tem que dar satisfações permanentes ao eleitor,
obviedade que sou obrigado a escrever porque, neste país, nunca se
tergiversou tanto sobre os deveres
óbvios das autoridades.
O resultado de ontem mostra que
não só Renan precisa do escurinho.
Afinal, 43 senadores declararam à
Folha que votariam pela cassação,
mas só apareceram 29 votos. A
maioria tem mesmo que esconder o
voto do público.
crossi@uol.com.br
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