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RUY CASTRO
Viva a tecnologia
RIO DE JANEIRO - Em 1924, ao
rodar seu filme "A Última Gargalhada", que se tornaria um clássico
do cinema alemão, o diretor F. W.
Murnau queria que sua câmera se
deslocasse de uma janela a outra,
ida e volta, atravessando um pátio
interno entre as duas. No futuro, seria simples: era só usar a lente
zoom. Mas, em 1924, ainda não havia a zoom. O que fez Murnau?
Adaptou um jogo de roldanas e polias. Elas conduziram a câmera até a
outra janela e a trouxeram de volta.
Linda cena.
Hoje, qualquer Xereta de camelô
tem zoom e ninguém pensa no assunto. E acabo de saber de uma câmera digital de cinema que pode ir
aonde o diretor quiser, sem ajuda
de girafa, grua, avião ou o que for, e
ainda captura o objeto por qualquer
ângulo. Imagino o que Murnau não
teria feito com uma dessas.
Em 1941, em Hollywood, a MGM
descobriu uma garota chamada
Margaret O'Brien. Tinha 4 anos e
ainda nem sabia ler, mas era um gênio da expressão facial. O diretor
Vincente Minnelli lhe perguntou se
conseguia chorar. Ela disse que sim
e se ele queria que ela chorasse pelos dois olhos ou por um olho só e,
nesse caso, qual deles. Ofereceu-se
também para deixar a lágrima equilibrando-se na pálpebra, sem cair. O
resultado está no filme "Agora Seremos Felizes", de 1944, e em muitos outros.
O cinema não produziu novas
Margaret O'Briens, e não precisa
mais delas. Existe agora um computador que simula para a câmera os
movimentos dos músculos e nervos
sob a pele. Com isso, qualquer
egresso do BBB pode se tornar um
novo Spencer Tracy ou Joan Crawford, sem precisar sequer piscar. Viva a tecnologia.
Viva. O problema é que a magia
desses efeitos é efêmera. Pouco depois de nos encantar no cinema,
eles começam a aparecer na TV, em
qualquer comercial de batata frita
ou de remédio para brotoeja.
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