São Paulo, sábado, 05 de dezembro de 2009

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RUY CASTRO

Viva a tecnologia

RIO DE JANEIRO - Em 1924, ao rodar seu filme "A Última Gargalhada", que se tornaria um clássico do cinema alemão, o diretor F. W. Murnau queria que sua câmera se deslocasse de uma janela a outra, ida e volta, atravessando um pátio interno entre as duas. No futuro, seria simples: era só usar a lente zoom. Mas, em 1924, ainda não havia a zoom. O que fez Murnau? Adaptou um jogo de roldanas e polias. Elas conduziram a câmera até a outra janela e a trouxeram de volta. Linda cena.
Hoje, qualquer Xereta de camelô tem zoom e ninguém pensa no assunto. E acabo de saber de uma câmera digital de cinema que pode ir aonde o diretor quiser, sem ajuda de girafa, grua, avião ou o que for, e ainda captura o objeto por qualquer ângulo. Imagino o que Murnau não teria feito com uma dessas.
Em 1941, em Hollywood, a MGM descobriu uma garota chamada Margaret O'Brien. Tinha 4 anos e ainda nem sabia ler, mas era um gênio da expressão facial. O diretor Vincente Minnelli lhe perguntou se conseguia chorar. Ela disse que sim e se ele queria que ela chorasse pelos dois olhos ou por um olho só e, nesse caso, qual deles. Ofereceu-se também para deixar a lágrima equilibrando-se na pálpebra, sem cair. O resultado está no filme "Agora Seremos Felizes", de 1944, e em muitos outros.
O cinema não produziu novas Margaret O'Briens, e não precisa mais delas. Existe agora um computador que simula para a câmera os movimentos dos músculos e nervos sob a pele. Com isso, qualquer egresso do BBB pode se tornar um novo Spencer Tracy ou Joan Crawford, sem precisar sequer piscar. Viva a tecnologia.
Viva. O problema é que a magia desses efeitos é efêmera. Pouco depois de nos encantar no cinema, eles começam a aparecer na TV, em qualquer comercial de batata frita ou de remédio para brotoeja.


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