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GRAMPOS E IMPUNIDADE
Afastados do governo os funcionários públicos flagrados por grampos
telefônicos, começa a se notar certo
esvaziamento de um episódio em que
estiveram imbricados atos criminosos, chantagens de ordem vária e disputas pelo poder na coalizão governista. Seria no entanto lamentável
que o país deixasse mais uma vez de
esclarecer um caso dessa gravidade,
no qual foi envolvida, na condição de
vítima de uma escuta ilegal, até a
mais alta autoridade da República,
Fernando Henrique Cardoso.
Passado o primeiro impacto da crise que se instalou no centro nevrálgico do governo, é preciso distinguir
alguns de seus aspectos, o que infelizmente não se verificou durante o
furacão dos acontecimentos.
O teor das fitas que vieram a público
expôs conversas de algumas das
mais altas autoridades públicas em
pouca conformidade com o padrão
tradicional da atuação de funcionários do Estado. Não há, porém, por
ora, nenhum indício de favorecimento pessoal ou de ato que viesse lesar o
patrimônio público. Pelo contrário,
o resultado do leilão das teles indica
que a operação de venda foi exitosa e
atendeu os interesses do país.
Resta no entanto esclarecer a autoria dos grampos, atos sabidamente
criminosos e que serviram de origem
a intrigas políticas, se não também
comerciais. O país não pode ficar à
mercê de delinquentes. É inaceitável
que permaneçam anônimos e impunes os bandidos, os mandantes dessa operação e os que dela tentaram se
beneficiar direta e conscientemente.
Não se deve neste momento poupar
esforços para que as investigações da
Polícia Federal, bem como o trabalho
do Ministério Público, cheguem até
os culpados. Não apenas para que sejam punidos com rigor, mas também
para que tais atos torpes de bandidagem sejam desencorajados de uma
vez por todas. O eventual fracasso na
identificação dos criminosos do
grampo pode custar caro demais para o futuro do país.
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