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Geopolítica do gás
Rússia ameaça Europa com desabastecimento energético; negociação e integração diminuiriam tentação autocrática
O
RISCO de desabastecimento energético na
Europa se agravou ontem, quando o premiê
russo, o todo-poderoso Vladimir
Putin, ordenou à estatal Gazprom que reduza o volume de gás
natural enviado à Ucrânia em totais equivalentes aos que Moscou acusa Kiev de ter "furtado".
Desde o dia 1º, a Rússia diminui o
envio do combustível à antiga
aliada, acusando-a de não honrar
compromissos comerciais.
Em uma sucessão de acusações
mútuas, os dois países têm procurado atrair a Europa para o litígio, já que uma parcela expressiva do gás consumido pela
União Europeia é importada da
Rússia e passa pelos dutos ucranianos. Com a disputa, seis países da União Europeia -República Tcheca, Polônia, Hungria,
Romênia, Bulgária e Eslováquia- e a Croácia já registraram
quedas no fornecimento do gás.
Não se trata de uma mera desavença comercial. A ameaça energética é a nova expressão de poder da Rússia, que detém as
maiores reservas de gás do mundo. Trata-se de seu grande instrumento de pressão política,
que se agrega a um arsenal militar ainda respeitável, mas defasado em relação ao dos EUA.
Ameaças ao suprimento de
energia europeu têm sido utilizadas com regularidade para enfrentar a política do governo
George W. Bush na região. Nos
últimos anos, a iniciativa de
Washington de instalar um escudo antimísseis em países do antigo bloco soviético tem provocado reações crescentes da Rússia.
Além disso, a estratégia de
atrair agressivamente os países
da antiga Europa Oriental para a
Organização do Tratado do
Atlântico Norte exalta os ânimos
locais. A Ucrânia e a Geórgia têm
governos pró-ocidentais. Diante
de uma provocação da Geórgia
contra a região separatista da Ossétia do Sul, em agosto do ano
passado, Moscou reagiu com
inesperada violência.
O corte no envio de gás à Ucrânia também coincidiu com a posse na presidência rotativa da
União Europeia da República
Tcheca, país candidato a abrigar
unidades do escudo antimísseis.
Diante disso, é alentador que o
presidente eleito dos EUA, Barack Obama, tenha indicado, durante a campanha, que adotará
uma linha de ação mais coordenada com a Europa para lidar
com o neoexpansionismo russo.
O presidente Dmitri Medvedev e
o premiê Putin desejam manter
o poder forte e centralizado no
Kremlin, mas não o farão à custa
de um novo isolacionismo econômico. Pelo contrário, seu programa depende do crescimento
da economia -e das exportações
de petróleo e gás, portanto.
Para a Europa, a solução negociada é a única forma de superar
a ameaça de desabastecimento.
Desde 2006, quando a interrupção do envio de gás à Ucrânia se
refletiu na UE, os países aumentaram seus estoques, mas não
dispõem de alternativa de fonte
energética no curto prazo.
As economias da União Europeia e dos países que compunham a antiga União Soviética
estão cada vez mais interdependentes. Essa integração é o melhor meio de estimular novas democracias na região e moderar a
tendência belicosa da Rússia.
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