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MARCOS NOBRE
Por um
pacifismo radical
É
PRECISO tomar posição nos
conflitos no Oriente Médio.
Mas qual? E, sobretudo, como? A única coisa de certo no momento é que Israel tem de ser obrigado a parar sua ofensiva militar.
Se o objetivo for a guerra, basta
tomar posição por um dos lados.
Mas e se o objetivo for a paz, e não
derrotar um inimigo?
Os ataques de Israel podem ser
qualificados, sem medo de errar, de
massacre. (Em vista das barbaridades perpetradas na história, no século 20 em particular, a expressão
"genocídio" deveria ser utilizada
com muito critério). Mas é fato
também que o Hamas tem por objetivo a destruição de Israel, e não a
convivência entre dois países soberanos. Há uma aliança perversa entre os que desejam aniquilar o outro dos dois lados, o que, na prática,
garante uma guerra até o fim dos
tempos.
É verdade que Israel saiu de Gaza. Mas estrangulou o governo local do Hamas em todos os sentidos,
de modo que atacar Israel parece
mais um último recurso desesperado. Como os ataques são frequentes dos dois lados, é difícil dizer quem atacou primeiro. Seja como for, com o ataque, Israel passou
a ter então o legítimo direito de se
defender. Mas, em lugar de se defender, aproveitou para lançar uma
ofensiva.
Na situação atual, qualquer perspectiva de paz parece enterrada
por um bom tempo. Israel passou
décadas tentando influenciar a política palestina de maneira a fazer
surgir um líder moderado e confiável. Quando finalmente conseguiu
-com Mahmoud Abbas-, suas
ações levaram à divisão da Palestina em duas e à desmoralização
completa de Abbas.
Em um quadro como esse, a única maneira de resistir à guerra é defender um pacifismo radical, sem
tomar posição prévia por nenhum
lado. Toda e qualquer ação que tenha consequências bélicas deve ser
condenada, independentemente
de que lado venha.
Se Israel impede o funcionamento do governo do Hamas em
Gaza, se o Hamas se nega a reconhecer o direito de existência a Israel, se Israel se recusa a reconhecer o governo do Hamas como legítimo, se o Hamas ataca militarmente Israel, em todos esses casos,
ambos os lados devem ser condenados da mesma maneira.
Isso não significa dizer que há
equilíbrio entre as forças. É patente a superioridade de Israel em termos de aparato estatal e de poderio
militar. Um ato bélico praticado
por Israel é certamente mais destrutivo do que um praticado pelo
Hamas. Mas, em um estado de
guerra, a pior ilusão é a de achar
que a paz só pode ser buscada depois de alcançado um equilíbrio de
forças. É o ingrediente mais poderoso para a continuidade da própria guerra.
nobre.a2@uol.com.br
MARCOS NOBRE escreve às terças-feiras nesta
coluna.
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