São Paulo, quinta-feira, 06 de janeiro de 2011

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Turismo legislativo

Nem o recesso, que afasta os parlamentares de Brasília, é capaz de evitar que o Congresso provoque a incredulidade da população diante do que lá se passa.
Rejeitados pelas urnas, das quais não obtiveram votos para chegar ao Legislativo, 45 suplentes de deputados e seis de senadores vão assumir mandatos-tampão. São beneficiados pela mudança de titulares da legislatura que se encerra para outras funções -uma secretaria de governo aqui, um ministério acolá.
Os "congressistas de verão", que permanecem nos cargos até o início de fevereiro, quando começa a nova legislatura, podem receber no período mais de R$ 100 mil. Além dos R$ 16,5 mil de salário, terão direito a auxílio-moradia e verbas para despesas com assessores, passagens aéreas, combustível, telefone etc.
Espera-se que no curto e rentável interregno não tenham a oportunidade de revelar a mesma agilidade de seus pares, que depois de meses de "recesso branco" (o eufemismo para ganhar sem trabalhar a pretexto de participar de campanhas eleitorais), conseguiram aprovar para si mesmos, em tempo recorde, aumento de 62%.
Na lista desses turistas legislativos, há quatro políticos que respondem na Justiça a acusações de se beneficiar do mensalão ou da máfia dos sanguessugas, apenas dois dos escândalos que têm se tornado mais norma que exceção no Congresso Nacional.
Tanto descompasso com o que esperam os eleitores que os conduziram ao Legislativo -cujos impostos pagam seus salários- não passa despercebido. No ano passado, de acordo com pesquisa Datafolha, apenas 16% dos brasileiros aprovavam o trabalho dos congressistas, contra 33% que consideravam seu desempenho ruim ou péssimo.
A nova legislatura assume em breve, já envolvida nos tradicionais conchavos com vistas ao comando da Câmara -um petista, um comunista, quem sabe um genérico Severino a apresentar-se em nome do "baixo clero". Os congressistas deveriam dedicar menos tempo à politicagem e mais aos interesses dos eleitores.


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