São Paulo, quarta-feira, 06 de fevereiro de 2008

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

Notas sem confete

SÃO PAULO - Embora essa forma de crítica tenha caído em desuso -ou por isso mesmo-, seguem alguns rascunhos sobre cultura e sociedade (e uma pitada de política) colhidos a esmo no Carnaval.
 
Nunca, como na nossa época, o sujeito comum foi tão impelido a se projetar nas celebridades que consome pela mídia. O sucesso de um programa boçal como o "Big Brother" talvez resida aí: ele materializa essa projeção por meio de uma espécie de novela da vida real. Plim-plim: Zé do Povo virou "celebrity".
 
No Carnaval se passa o mesmo, mas com sinais trocados: as celebridades brincam de "ser povo". E assim reafirmam a sua... celebridade.
 
A "cultura das celebridades", essa ficção, colonizou o Carnaval. As escolas de samba passaram a funcionar como agências de "rating" de modelos e aspirantes. Fazem a triagem que alimenta o mercado sexista e vulgar de revistas, novelas e filhos da elite pelo resto do ano.
 
Com "tanto riso, tanta alegria e mais de mil celebrities no salão", difícil eleger um artista. Destaque para o filósofo da África, Nizan Guanaes, curvando-se para beijar a mão do governador Jaques Wagner, ao lado do presidente da Coca-Cola.
 
Galãzinho global, Cauã faz a barba diante das câmeras para uma empresa instalada no camarote de Flora Gil, mulher do ministro da Cultura. Recebe R$ 30 mil pela mise-en-scène. No maior "Baticum".
 
As áreas VIPs dos camarotes entraram em crise, informa Mônica Bergamo. Celebridades não querem mais emprestar seu prestígio às cervejarias assim, de graça.
Sugestão para 2009: cada representante da cultura nacional pendura uma etiqueta na camisa com seu valor de mercado: "Eu custo R$". Os mais descolados podem inovar: "Estou grátis". Será fashion.


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