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CLÓVIS ROSSI
Ronaldo, Messi e as máquinas
MADRI - Há grupos, infelizmente
pequenos e com baixo teor de penetração no debate público, que entram na discussão sobre a mudança
climática pelo lado mais abrangente, o do insustentável padrão de
consumo do mundo contemporâneo. Diz essa turma que não adianta
muito substituir o combustível derivado do petróleo pelo biocombustível se permanecer o incontrolável
consumo de tudo o que gera gases,
poluição etc.
Por mais que suspeite que a pregação de uma relativa frugalidade
está fadada à derrota, ao menos no
tempo de vida que me resta, ela ganha atualidade ante duas cenas
muito recentes. A primeira, a de
Ronaldo caído na grama e chorando
(de novo) por mais uma contusão
séria, durante jogo do Milan, faz
apenas três semanas. A segunda, a
de um menino, Lionel Messi, jogador do Barcelona, chorando (de novo) pela ruptura do bíceps femural
da coxa esquerda, no jogo em que
ganhamos do Celtic (1 a 0), na noite
de anteontem.
O que tem o primeiro parágrafo a
ver com o segundo? Do meu ponto
de vista, tudo: situações como a de
Ronaldo, 31 anos, e a de Messi, 20,
ocorrem porque está havendo um
consumo descontrolado também
de seres humanos.
O jornal "El País" diz que a nova
contusão do craque do Barça "reabre o debate sobre se a fragilidade
muscular de Messi tem algo a ver
com o tratamento hormonal a que
foi submetido em sua adolescência
para corrigir problemas de crescimento" (Messi passou de adolescente a adulto já no Barça, ao qual
chegou aos 13 anos).
Não soa familiar? Não é o mesmo
debate que se deu sobre a nova contusão de Ronaldo?
O fato é que o esporte de competição tornou-se parte da formidável
engrenagem do capitalismo. Por isso, exigem-se máquinas de produzir (no caso, futebol). Nada contra o
capitalismo. Mas ainda prefiro seres humanos a máquinas.
crossi@uol.com.br
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