São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Ronaldo, Messi e as máquinas

MADRI - Há grupos, infelizmente pequenos e com baixo teor de penetração no debate público, que entram na discussão sobre a mudança climática pelo lado mais abrangente, o do insustentável padrão de consumo do mundo contemporâneo. Diz essa turma que não adianta muito substituir o combustível derivado do petróleo pelo biocombustível se permanecer o incontrolável consumo de tudo o que gera gases, poluição etc.
Por mais que suspeite que a pregação de uma relativa frugalidade está fadada à derrota, ao menos no tempo de vida que me resta, ela ganha atualidade ante duas cenas muito recentes. A primeira, a de Ronaldo caído na grama e chorando (de novo) por mais uma contusão séria, durante jogo do Milan, faz apenas três semanas. A segunda, a de um menino, Lionel Messi, jogador do Barcelona, chorando (de novo) pela ruptura do bíceps femural da coxa esquerda, no jogo em que ganhamos do Celtic (1 a 0), na noite de anteontem.
O que tem o primeiro parágrafo a ver com o segundo? Do meu ponto de vista, tudo: situações como a de Ronaldo, 31 anos, e a de Messi, 20, ocorrem porque está havendo um consumo descontrolado também de seres humanos.
O jornal "El País" diz que a nova contusão do craque do Barça "reabre o debate sobre se a fragilidade muscular de Messi tem algo a ver com o tratamento hormonal a que foi submetido em sua adolescência para corrigir problemas de crescimento" (Messi passou de adolescente a adulto já no Barça, ao qual chegou aos 13 anos).
Não soa familiar? Não é o mesmo debate que se deu sobre a nova contusão de Ronaldo?
O fato é que o esporte de competição tornou-se parte da formidável engrenagem do capitalismo. Por isso, exigem-se máquinas de produzir (no caso, futebol). Nada contra o capitalismo. Mas ainda prefiro seres humanos a máquinas.


crossi@uol.com.br

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