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RUY CASTRO
Rapaz de bem
RIO DE JANEIRO - Em dezembro, Leny Andrade e Alayde Costa
fizeram um show em homenagem a
Johnny Alf no teatro Ginástico. Foram duas horas de amor, em que
Leny e Alayde falaram de Johnny e
cantaram seus clássicos e canções
obscuras. Todos sabiam que sua
saúde estava por um fio, mas não se
pronunciou a palavra morte.
Não era necessário. Ali se tratava
de celebrar a música, a beleza, o talento, a vida. Fazia-se por Johnny
Alf o que deveria ter sido feito com
frequência e em todos os anos: promover recitais, concertos e canjas
com seus sambas - "Ilusão à Toa",
"Rapaz de Bem", "Céu e Mar", "O
Que é Amar", "Disa", "Fim de Semana em Eldorado", "Nós", "Eu e a
Brisa" e muitos outros.
Mas não aconteceu assim, e
Johnny morreu sem a consagração
que bafejou em vida vários de seus
contemporâneos, como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden
Powell. Duas opiniões meio correntes acham que isso se deu por "racismo" (Johnny era negro) ou por
Johnny ter trocado o Rio por São
Paulo nos anos 50, antes da explosão da bossa nova (que ele ajudara
a construir).
Será? Dolores Duran, o saxofonista Paulo Moura, Jorge Ben, Gilberto Gil e o próprio Baden não
eram arianos, e isso não os impediu
de vencer na bossa nova. E quem
também saiu do Rio antes de o movimento explodir foi João Donato.
Que se mudou até para mais longe:
Los Angeles, onde ficou 13 anos.
Pois Donato voltou em 1972, reassumiu sua cátedra e hoje é maior do
que nunca.
Johnny não se sentia com uma
cátedra a retomar. Por modéstia,
dispensava tudo o que lhe ofereciam. Nas entrevistas, falava mais
de suas admirações (Tom, entre
elas) do que de si próprio. Não pedia
nada para si. Era completo com sua
arte. Quem fracassou fomos nós,
que não soubemos dizer ao mundo
o artista que tínhamos à mão.
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