São Paulo, quinta-feira, 06 de abril de 2006

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A SUCESSÃO PERUANA

Os peruanos vão às urnas no domingo para escolher seu próximo presidente. O candidato favorito é o ultranacionalista Ollanta Humala, que está com 32% das intenções de voto. Em segundo lugar vem a liberal-conservadora Lourdes Flores, com 26%, e, em terceiro, o populista ex-presidente Alan García, com 23%.
Como nenhum dos postulantes deverá obter metade mais um dos votos válidos, o mais provável é que o pleito seja definido num segundo escrutínio, a ser realizado em maio. Caso Humala e Flores passem para o segundo turno -cenário mais verossímil-, as pesquisas dão 50% das intenções de voto para cada um.
A perspectiva da eleição de Humala é preocupante. Embora se apresente como um nacionalista de esquerda, parece mais correto qualificá-lo como um ultranacionalista com fortes traços autoritários. Promete proibir companhias estrangeiras de atuar em setores "estratégicos", rever incentivos fiscais a mineradoras -que respondem pela maior parte dos 6,7% de crescimento registrados em 2005- e fala em industrializar a produção de folhas de coca.
Alguns analistas acusam-no de esconder suas verdadeiras idéias, algo delirantes e, ademais, inclinadas ao racismo. Afirmam que, a exemplo do irmão e do pai -também envolvidos com política, mas em outro partido-, pretende refundar o império inca, numa democracia exclusiva para índios e "mestizos".
Como militar, Humala esteve envolvido na violenta repressão aos membros da não menos violenta guerrilha maoísta Sendero Luminoso. Acusações de que teria participado de tortura lhe custaram pontos nas pesquisas durante a campanha.
Se de fato vencer, Humala chegará ao poder sem nenhuma estrutura partidária a sustentá-lo, a exemplo de seus antecessores imediatos, Alberto Fujimori e Alejandro Toledo. E a combinação de idéias extremistas e um ambiente político-institucional rarefeito nunca acaba bem.


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