|
Próximo Texto | Índice
Editoriais
editoriais@uol.com.br
Meia vitória
Disputa entre EUA e Rússia pode deslanchar nova guerra fria, travada com dinheiro, recursos naturais e propaganda
O SALDO da reunião de
cúpula da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (Otan), encerrada sexta em Bucareste, foi
de meia vitória para o presidente
George W. Bush na disputa estratégica com Vladimir Putin.
Os EUA obtiveram apoio para
instalar seu escudo antimísseis
em países do Leste Europeu. O
americano, contudo, não conseguiu estabelecer, como desejava,
um cronograma para a adesão de
Ucrânia e Geórgia, vizinhos da
Rússia que integravam a União
Soviética, à aliança militar.
A Rússia, que não faz parte da
entidade, vem jogando pesadamente para que as duas repúblicas não obtenham o passe de entrada na Otan. Vladimir Putin
ameaçou até cancelar sua visita à
cúpula na capital da Romênia caso a posição americana houvesse
prevalecido.
França e Alemanha, decisivos
para a derrota de Bush nesse tema, argumentaram que Ucrânia
e Geórgia atravessam fase de
grande instabilidade, o que não
recomendaria sua entrada imediata na Otan e resultaria em
desnecessária afronta a Moscou.
Foi o unilateralismo de Bush
que originou os graves problemas operacionais que a aliança
enfrenta no Afeganistão, onde 47
mil militares de 26 membros da
entidade há sete anos tentam
sem sucesso eliminar a atuação
do Taleban e da Al Qaeda.
Bush recusou a ajuda dos aliados no início da operação afegã e
só recorreu a ela quando resolveu concentrar os esforços bélicos dos EUA no Iraque. Não surpreende que só a muito custo tenha convencido aliados da Otan
a enviar reforços considerados
essenciais para evitar o fortalecimento do terror afegão .
A questão mais séria para o futuro da Otan, entretanto, é a possibilidade de ressurgimento da
guerra fria com a Rússia. A "Nova
Guerra Fria", título de recente livro do jornalista Edward Lucas,
dispensaria as armas convencionais e seria lutada com dinheiro,
diplomacia, propaganda e, cada
vez mais, recursos naturais.
Putin já tem criado inúmeros
problemas com base nas grandes
jazidas de petróleo e gás da Rússia, das quais dependem muitos
países europeus -daí a quase reverência com que governos como o alemão e o francês tratam o
Kremlin. Além disso, o presidente russo não demonstra escrúpulos em dar suporte a movimentos separatistas na Geórgia e em
Moldova, manter atitude de clara beligerância contra a Estônia
e oferecer armas ao Irã.
Putin e Bush são líderes que,
até os seus últimos dias na Presidência -o cesarismo do russo vai
continuar por outros meios-,
insistem em colocar em risco a
paz internacional.
Próximo Texto: Editoriais: Aperfeiçoar a Lei Rouanet
Índice
|