São Paulo, quarta-feira, 06 de abril de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

Obama, o ilegal

BRASÍLIA - Se tivesse nascido no Brasil e desejasse ser candidato a presidente, o norte-americano Barack Obama correria, aqui, um sério risco de já estar inelegível. Seu e-mail nesta semana anunciando a intenção de disputar a reeleição em 2012 seria um crime eleitoral.
No Brasil, e-mail, Twitter, blogs e outros meios na internet só podem ser usados para fins eleitorais após formalizadas as candidaturas -apenas a três meses do dia da disputa. É a lei. Os políticos, por enquanto, fingem não ser candidatos. E a Justiça finge acreditar.
Essa proibição esdrúxula pode parecer um aspecto lateral da cultura político-eleitoral brasileira. Não é. Já em 2008, uma das grandes forças motrizes da democracia dos EUA foi a participação, via internet, de milhões de cidadãos no processo de escolher o ocupante da Casa Branca. Obama teve 4 milhões de doações on-line de eleitores que enviavam pequenas quantias, de até US$ 200 cada uma.
Carlos Eduardo Lins da Silva explicou com destreza, ontem na Folha, o significado do anúncio de Obama na internet para a política dos EUA. No Brasil, o episódio poderia servir de reflexão para os que hoje no Congresso comandam o debate sobre reforma política.
Em vez da obsessão por temas que causam aversão ou narcolepsia -distritão, lista fechada e outras expressões incompreensíveis para o cidadão comum-, deputados e senadores poderiam acabar com as restrições impostas à campanha eleitoral na internet, a qualquer tempo e época. Que mal faz um deputado se declarar já candidato a prefeito no ano que vem?
O calendário restrito e a proscrição da internet para fins eleitorais têm efeito deseducativo. Os cidadãos ficam privados de interagir na web de maneira aberta com os candidatos de eleições futuras. Que alguém no Congresso ainda tenha a presciência de levantar a mão e colocar o tema em pauta durante a atual tentativa de reforma política.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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