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São Paulo, terça-feira, 06 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Uma ilha chamada brasil

RIO DE JANEIRO - Passei alguns dias em Buenos Aires, não em tarefa jornalística, que ficou a cargo do competente mestre Clóvis Rossi, mas para lançar, em companhia de Alberto da Costa e Silva, presidente da Academia Brasileira de Letras, três livros fundamentais da nossa literatura em tradução para o espanhol.
Citar os três livros é uma alegria e uma tristeza ao mesmo tempo: "Os Sertões", de Euclides da Cunha, "As Memórias Póstumas de Brás Cubas", de Machado de Assis, e uma antologia poética de Manuel Bandeira. Tirante o primeiro, que fora traduzido há muitos anos e nunca tivera reedição na Argentina, os outros são rigorosamente inéditos e fazem parte de um programa cultural dirigido pelo poeta Ivan Junqueira com o patrocínio da ABL, que, inclusive, pagou os tradutores.
Na contramão, haverá traduções da literatura argentina para o Brasil. Com poucas exceções (Borges, Cortázar, Sarmiento e mais dois ou três nomes), o mercado editorial brasileiro ignora compactamente a produção literária de nosso vizinho e parceiro no Mercosul.
Dói em nosso orgulho o isolamento do Brasil não apenas na Argentina mas em todos os países da América Latina. O futebol e a música popular venceram a barreira do idioma, encontram-se torcedores do Flamengo e do Palmeiras em todos os lugares, até mesmo em casas comerciais que colocam o escudo ou uma foto do time na vitrine, e não apenas para atrair compradores.
A nossa música popular disputa os primeiros lugares nas paradas de sucesso, tanto na versão original como em numerosas adaptações locais.
E nossos grandes clássicos permanecem meras referências nas enciclopédias. Um ou outro curioso conhece alguma obra ou autor, mas sem uma visão do conjunto de nossa produção literária.


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