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CARLOS HEITOR CONY
Uma ilha chamada brasil
RIO DE JANEIRO - Passei alguns dias em Buenos Aires, não em tarefa jornalística, que ficou a cargo do competente mestre Clóvis Rossi, mas para
lançar, em companhia de Alberto da
Costa e Silva, presidente da Academia Brasileira de Letras, três livros
fundamentais da nossa literatura em
tradução para o espanhol.
Citar os três livros é uma alegria e
uma tristeza ao mesmo tempo: "Os
Sertões", de Euclides da Cunha, "As
Memórias Póstumas de Brás Cubas",
de Machado de Assis, e uma antologia poética de Manuel Bandeira. Tirante o primeiro, que fora traduzido
há muitos anos e nunca tivera reedição na Argentina, os outros são rigorosamente inéditos e fazem parte de
um programa cultural dirigido pelo
poeta Ivan Junqueira com o patrocínio da ABL, que, inclusive, pagou os
tradutores.
Na contramão, haverá traduções
da literatura argentina para o Brasil.
Com poucas exceções (Borges, Cortázar, Sarmiento e mais dois ou três nomes), o mercado editorial brasileiro
ignora compactamente a produção
literária de nosso vizinho e parceiro
no Mercosul.
Dói em nosso orgulho o isolamento
do Brasil não apenas na Argentina
mas em todos os países da América
Latina. O futebol e a música popular
venceram a barreira do idioma, encontram-se torcedores do Flamengo e
do Palmeiras em todos os lugares, até
mesmo em casas comerciais que colocam o escudo ou uma foto do time na
vitrine, e não apenas para atrair
compradores.
A nossa música popular disputa os
primeiros lugares nas paradas de sucesso, tanto na versão original como
em numerosas adaptações locais.
E nossos grandes clássicos permanecem meras referências nas enciclopédias. Um ou outro curioso conhece
alguma obra ou autor, mas sem uma
visão do conjunto de nossa produção
literária.
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