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FERNANDO RODRIGUES
Preguiça cívica
BRASÍLIA - Uma característica
marcante da eleição presidencial
dos Estados Unidos no ano passado
foi a insistência diária dos candidatos pedindo dinheiro. Na TV, rádio
e internet, Barack Obama e John
McCain quase imploravam por
doações. Receberam muito.
O democrata Obama, o vencedor,
teve cerca de 3,5 milhões de doadores diferentes. Desses, pelos menos
2,5 milhões deram quantias inferiores a US$ 200 cada um.
Como comparação, ao ser reeleito presidente em 2006, o petista
Lula teve 1.319 doadores (e 1.634
doações). O tucano José Serra ganhou o governo de São Paulo com
apenas 55 doadores diferentes. Os
dados são oficiais, do TSE.
Nesta semana, a Folha revelou
que as empresas doadoras de campanha têm depositado vigorosamente nas contas bancárias dos
partidos políticos. Ocultam assim
os nomes dos candidatos receptores de recursos na ponta final.
O TSE pretende apertar os controles. Nenhum partido considerou
positiva a iniciativa da Justiça Eleitoral. Querem opacidade nas contas de campanha.
Não ocorre a nenhuma agremiação política ajudar a criar uma cultura da doação financeira durante
os períodos eleitorais. Trata-se de
uma forma clássica de incentivar a
participação dos cidadãos na vida
partidária. Quem doa R$ 10 ou R$
20 a uma legenda ou candidato fica
comprometido. Cobrará responsabilidade dos eleitos.
Aí está o problema. Os políticos
querem distância dos eleitores interessados em cobrar promessas.
Poucos -se é que ainda existe algum- tampouco teriam coragem
de aparecer em público pedindo dinheiro para suas campanhas. O
mais fácil é se acomodar na habitual preguiça cívica. Defender o financiamento público exclusivo e,
enquanto não cola esse novo
despautério, receber dinheiro camuflado por meio dos partidos
políticos.
frodriguesbsb@uol.com.br
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