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Operação limpeza
PF descortina máfias que aliciam agentes públicos; cúpula da política estimula criminosos ao promover a impunidade
AS OPERAÇÕES da Polícia
Federal se sucedem e,
na diversidade das máfias que vão deslindando, um certo padrão criminoso
sobressai. Todos os bandos flagrados em ações como a Hurricane, a Têmis, a Navalha e agora
a Xeque-Mate estabelecem cabeças-de-ponte no poder público.
O papel de viabilizadores da
ação delituosa, quando não de
seus mentores, recai monotonamente sobre agentes do Estado,
seja na burocracia regular -magistrados, policiais-, seja na sua
interface política -governantes,
parlamentares e assessores de
confiança. A impressão que se
generaliza é a de que pequenas e
grandes quadrilhas infestam o
poder público.
Diante disso, é ocioso indagar
se a corrupção no Brasil atinge
níveis inauditos ou se é a melhoria da investigação policial que
traz à superfície práticas corriqueiras, mas antes veladas. A exposição da sem-cerimônia com
que quadrilhas aliciam agentes
públicos corrói a confiança da
população nas instituições. O antídoto é conhecido: depurar a burocracia e a política dos que se
desviam da legalidade; dar exemplos firmes e públicos de intransigência com atos ilícitos.
Ainda se sabe pouco acerca das
relações de um irmão e um compadre do presidente da República com a máfia desbaratada anteontem. As declarações de Luiz
Inácio Lula da Silva sobre o ocorrido, afirmando que não haverá
privilégios aos investigados pelo
fato de terem relações pessoais
com o presidente, satisfazem
preceitos republicanos.
Lamentavelmente, a política
brasileira -a coalizão em torno
de Lula em particular- tem tomado um rumo diverso do apontado pelas palavras presidenciais. Quando não se punem assessores graduados da campanha à reeleição flagrados com dinheiro sujo numa conspiração,
outros se sentirão encorajados a
delinqüir em nome do presidente, de um ministro, de uma autoridade qualquer.
Estatais e ministérios que estiveram no centro de escândalos
no passado recente voltaram a
ser loteados da mesma maneira;
os cargos de livre provimento
(porta de entrada às negociatas)
continuam tão fartos e generosos como antes; um festival de
absolvições no Congresso Nacional se seguiu ao mensalão e ao
caso dos sanguessugas; parlamentares governistas e oposicionistas relutam em instalar uma
CPI para perscrutar relações inconfessáveis entre empreiteiras,
políticos e poder público.
As máfias que se sentem à vontade para corromper agentes públicos não encontram resistência sistemática da parte da cúpula dos Poderes constituídos pelo
voto. Ao contrário, vislumbram
ali um ambiente favorável para
fazer penetrar os seus interesses.
Trata-se de um roteiro trágico
para a democracia, que precisa
ser alterado com urgência.
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