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TENDÊNCIAS/DEBATES
Micro e pequena empresa, a hora é agora
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES
Há um novo desafio: mudar a relação do Estado com as micro e pequenas empresas. É preciso regulamentar a lei geral sancionada em 2006
HÁ UM senso comum que põe o
Brasil como o país das oportunidades perdidas. Isso não é
bem a verdade. Um dos problemas do
país é não aproveitá-las no tempo
oportuno. Nossas indecisões, nossos
conflitos de interesses sempre travam as mudanças que já poderiam ter
sido feitas. Exemplos não faltam: as
reformas tributária, política, trabalhista e tantas outras. Com elas o país
cresceria consistentemente e com
sustentabilidade. Quando, por fim,
essas reformas vierem, vamos uma
vez mais lamentar o tempo perdido.
Por outro lado, tivemos a chance de
barrar a inflação, construir indicadores macroeconômicos estáveis e dinamizar a economia por meio das privatizações -e o fizemos. Isso poderia
ter ocorrido um pouco antes, mas
aconteceu, e os resultados estão aí.
Agora estamos diante de um novo
desafio, o de mudar a relação do Estado brasileiro (Federação, Estados e
municípios) com as micro e pequenas
empresas. Essa mudança implica reconhecer o papel fundamental das
pequenas empresas na economia, assim como sua função social como geradora de emprego e distribuidora de
renda. Isso vai acontecer mais cedo
ou mais tarde, simplesmente por se
tratar de uma verdade inequívoca.
Temos uma real oportunidade para
que isso ocorra, com a regulamentação da Lei Geral da Micro e Pequena
Empresa. A lei, sancionada em dezembro de 2006 pelo presidente Lula,
se devidamente regulamentada, possibilita a criação de um ambiente favorável para a abertura e o encerramento de pequenos negócios e, principalmente, para desburocratizar o
dia-a-dia dos pequenos empreendimentos, além de reduzir a carga tributária e criar mecanismos de acesso ao
crédito, às compras governamentais e
à tecnologia.
Tudo isso está previsto, mas precisa
ser regulamentado por Estados, municípios e pela Receita Federal. O prazo para a Receita Federal é 1º de julho
de 2007, com a entrada em vigor do
capítulo tributário da lei geral, mais
conhecido como Supersimples. Já Estados e municípios devem regulamentar a lei até o final deste ano.
Projeções conservadoras realizadas pelo Observatório das Micro e Pequenas Empresas do Sebrae-SP
apontam que, com a lei geral regulamentada e em prática, temos o potencial de formalização, nos próximos
cinco anos, de 600 mil pequenos negócios no Estado de São Paulo. Esses
empreendimentos formalizados têm
a capacidade de gerar 1,8 milhão de
novos postos de trabalho e de injetar
R$ 17,5 bilhões em salários por ano na
economia paulista.
Aqui em São Paulo, o governador
José Serra já anunciou que o Estado
fará o necessário para que a lei geral
seja implementada, a fim de garantir
o tratamento diferenciado a esse segmento vital para o desenvolvimento
socioeconômico do país.
Alguns municípios paulistas já se
movimentam na mesma direção, como é o caso de Itararé, cidade do Vale
do Ribeira, a primeira do Estado a regulamentar a lei geral municipal. Entre as vantagens para os empreendedores locais, desconto de até 50% no
ISS (Imposto Sobre Serviços), além
de continuar investindo na capacitação dos empresários.
Sintomático que o primeiro município a regulamentar a lei de apoio aos
pequenos negócios seja de uma das
regiões mais pobres do Estado. É um
bom sinal, que mostra a visão do administrador e dos legisladores municipais. Porém, é importante que todos
os municípios aprovem legislações
que garantam a implantação da lei geral. Vários outros municípios, como
Ribeirão Preto, Lins, Sorocaba, Santa
Fé do Sul, para citar apenas alguns
exemplos, já estão num processo de
discussão para a regulamentação da
nova lei no âmbito do município.
O Sebrae-SP, em conjunto com outras 40 instituições públicas e privadas, elaborou uma sugestão de lei geral municipal, amplamente discutida
durante os nove fóruns regionais "A
Nova Realidade para os Pequenos Negócios", realizados nos últimos dois
meses com a parceria de federações
empresariais e de contabilistas, que
contaram com a participação de mais
de 15 mil pessoas, entre prefeitos, vereadores, lideranças empresariais,
sociedade civil organizada e empresários. Essa proposta de regulamentação, amplamente discutida, está agora à disposição de todos os municípios paulistas.
Com apoio consciente de prefeitos
e vereadores, temos a convicção de
que a lei geral será uma nova realidade para as micro e pequenas empresas e, no futuro, em vez de lamentarmos a oportunidade perdida, vamos
comemorar o fato de termos todos
juntos, as forças políticas e a sociedade organizada, tomado a decisão correta na hora certa.
FÁBIO DE SALLES MEIRELLES, 77, advogado e agropecuarista, é presidente do Conselho Deliberativo do
Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), da Federação da Agricultura do Estado
de SP e do Serviço de Aprendizagem Rural de SP.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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