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CLÓVIS ROSSI
Por falar em coração
SÃO PAULO- Quer dizer, então, que
Dilma Rousseff, para os tucanos,
não tem coração? Parece mais letra
de bolero que alta política.
Por isso, prefiro falar do coração
que tende a ser o que definirá a eleição de outubro. Antes, um "flashback" para a eleição francesa de
1974. O conservador Valéry Giscard
d'Estaing conseguiu virar o jogo no
segundo turno, depois de perder no
primeiro, ao vender ao público a tese de que a esquerda "não tem o
monopólio do coração".
Claro que esse coração não é a
máquina que supostamente não
pulsa no peito de Dilma, mas a
compaixão pelos deserdados da
fortuna. Com esse bordão, Giscard
bateu por poucos votos, mas bateu,
o socialista François Mitterand.
No Brasil-2010, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva pretende, sim,
ter o "monopólio do coração", no
sentido "giscardiano". E é geralmente aceito que tem mesmo, de
que dá prova o fato de que seu adversário José Serra disse, não faz
muito, que Lula está acima do bem
e do mal.
Falta que Dilma Rousseff, a candidata de Lula, seja plenamente
identificada como coproprietária
desse monopólio, o que ainda não
ocorreu, a julgar pela pesquisa
mais recente do Datafolha.
A Serra compete repetir Giscard e
tentar tirar da cabeça do eleitorado
a ideia da copropriedade, com a dificuldade agregada de não poder
atingir Lula no percurso porque
não seria crível.
Ou, então, tentar mexer com outras emoções que, para ser bem
franco, não consigo ver bem quais
possam ser, pelo menos não a esta
altura do jogo.
O que parece óbvio é que o diz-que-diz em torno de dossiês não
emociona a massa. É coisa de políticos, que não chegam a compor a raça mais amada do planeta. Para fazer efeito, seria preciso uma radiografia exibida na TV, para provar
que Dilma de fato não tem coração.
Difícil, não?
crossi@uol.com.br
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