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CORREDOR PAULISTANO
O trânsito de São Paulo é internacionalmente conhecido
por suas terríveis complicações. Locomover-se pela metrópole é uma árdua tarefa para quem utiliza o automóvel. É ainda mais exasperante para aqueles que precisam recorrer ao
sistema de transporte coletivo. O
atraso com que a cidade veio a ingressar na era do metrô e o ritmo lento de ampliação das linhas fazem
com que outras soluções precisem
ser adotadas.
Há 20 anos, discutia-se a conveniência de criar vias exclusivas para
ônibus na capital paulista. Seria uma
forma de melhorar a eficiência do
transporte público e de aliviar o cotidiano de seus usuários. Hoje, no entanto, quando 10 mil ônibus disputam espaço com 4,5 milhões de automóveis -além de peruas, caminhões e veículos fretados-, o debate
deve ser colocado em outro patamar.
Já existe razoável consenso de que
os chamados corredores podem
contribuir para melhorar a fluidez do
tráfego dos ônibus de grande capacidade, receptores de passageiros das
linhas locais para transporte entre diversas regiões da cidade.
Entretanto, no momento em que a
prefeitura prepara a implantação de
novos corredores dentro de seu plano para reestruturar o sistema de
ônibus, é preciso garantir que essas
obras não repitam desastres urbanísticos como os observados nas avenidas Nove de Julho e Santo Amaro.
Criado na década de 80, o corredor
que se estende pela faixa central dessas duas vias promoveu a deterioração da paisagem e dos negócios em
seu entorno. Pelo dano que causou, a
experiência constitui um contra-exemplo de valorização do transporte público. Ainda que sejam úteis para o funcionamento do sistema, são
dois monumentos à feiúra e à degradação urbanística.
Compreende-se, portanto, que
moradores, lojistas e urbanistas manifestem preocupação diante da
perspectiva de instalação de um novo
corredor na avenida Rebouças. O receio vale igualmente para outras vias
potencialmente candidatas a sofrer o
mesmo tipo de intervenção. É fundamental que os novos projetos de corredores associem funcionalidade e
qualidade urbanística, evitando impactos negativos para imóveis vizinhos, pedestres e os próprios usuários de ônibus.
Além das necessidades de engenharia de tráfego, devem-se levar em
conta as características e potencialidades de cada avenida do ponto de
vista paisagístico e sua valorização
como espaço público. Só assim é
possível avaliar, em cada caso, se
convém adotar opções como as plataformas centrais, modelo que tira o
usuário de ônibus das calçadas.
Outro ponto a considerar é que o
sistema de ônibus não diz respeito
apenas a uma via ou a um bairro. Para que as mudanças tenham chance
de ser bem-sucedidas, precisam
acontecer dentro de um plano que
contemple o conjunto do transporte
metropolitano.
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