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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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CORREDOR PAULISTANO

O trânsito de São Paulo é internacionalmente conhecido por suas terríveis complicações. Locomover-se pela metrópole é uma árdua tarefa para quem utiliza o automóvel. É ainda mais exasperante para aqueles que precisam recorrer ao sistema de transporte coletivo. O atraso com que a cidade veio a ingressar na era do metrô e o ritmo lento de ampliação das linhas fazem com que outras soluções precisem ser adotadas.
Há 20 anos, discutia-se a conveniência de criar vias exclusivas para ônibus na capital paulista. Seria uma forma de melhorar a eficiência do transporte público e de aliviar o cotidiano de seus usuários. Hoje, no entanto, quando 10 mil ônibus disputam espaço com 4,5 milhões de automóveis -além de peruas, caminhões e veículos fretados-, o debate deve ser colocado em outro patamar.
Já existe razoável consenso de que os chamados corredores podem contribuir para melhorar a fluidez do tráfego dos ônibus de grande capacidade, receptores de passageiros das linhas locais para transporte entre diversas regiões da cidade.
Entretanto, no momento em que a prefeitura prepara a implantação de novos corredores dentro de seu plano para reestruturar o sistema de ônibus, é preciso garantir que essas obras não repitam desastres urbanísticos como os observados nas avenidas Nove de Julho e Santo Amaro.
Criado na década de 80, o corredor que se estende pela faixa central dessas duas vias promoveu a deterioração da paisagem e dos negócios em seu entorno. Pelo dano que causou, a experiência constitui um contra-exemplo de valorização do transporte público. Ainda que sejam úteis para o funcionamento do sistema, são dois monumentos à feiúra e à degradação urbanística.
Compreende-se, portanto, que moradores, lojistas e urbanistas manifestem preocupação diante da perspectiva de instalação de um novo corredor na avenida Rebouças. O receio vale igualmente para outras vias potencialmente candidatas a sofrer o mesmo tipo de intervenção. É fundamental que os novos projetos de corredores associem funcionalidade e qualidade urbanística, evitando impactos negativos para imóveis vizinhos, pedestres e os próprios usuários de ônibus.
Além das necessidades de engenharia de tráfego, devem-se levar em conta as características e potencialidades de cada avenida do ponto de vista paisagístico e sua valorização como espaço público. Só assim é possível avaliar, em cada caso, se convém adotar opções como as plataformas centrais, modelo que tira o usuário de ônibus das calçadas.
Outro ponto a considerar é que o sistema de ônibus não diz respeito apenas a uma via ou a um bairro. Para que as mudanças tenham chance de ser bem-sucedidas, precisam acontecer dentro de um plano que contemple o conjunto do transporte metropolitano.



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