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CLÓVIS ROSSI
Excesso de falta de decoro
BRUXELAS - Se faltasse motivo
para punir o presidente do Senado,
Renan Calheiros, ele próprio o forneceu, na forma de excesso de falta
de decoro.
Essa é a única qualificação publicável para a sua teoria da conspiração da mídia para "vingar-se de Lula", derrubando o próprio Calheiros. Ridículo, grotesco e caricato,
como dizia há meio século um velho
cronista esportivo.
A tosca teoria do presidente do
Senado é esta: "Setores da mídia,
que não conseguiram derrubar o
presidente Lula, agora querem ir à
forra, querem ir ao terceiro turno,
derrubando o presidente do Senado
Federal".
Primeiro, uma omissão criminosa de parte do senador: se havia
uma conspiração da mídia para derrubar Lula, ele deveria tê-la denunciado energicamente. Calou-se, no
entanto, e até bajulou mais de um
meio de comunicação.
Segundo, é um mitômano, o que
também desqualifica qualquer político, mais ainda quem ocupa alto
posto. Pretender que derrubá-lo é
atingir Lula é dar a si próprio uma
enorme importância, que sabidamente não tem.
É também análise política primária, primitiva, sem o menor valor, o
que é insuportável em um político
que se pretende de alto coturno. Há
uma só pessoa, além de Calheiros,
que acredita que Lula será minimamente atingido se o presidente do
Senado for afastado?
Se Lula não foi torrado pela incineração de seus dois auxiliares
mais próximos (José Dirceu e Antonio Palocci), é arquievidente que
nem lhe fará cócegas a desgraça de
Calheiros. Ao contrário, talvez até
lhe seja benéfica, abrindo a chance
para colocar no comando do Senado uma figura menos desgastada e
com um mínimo de bom senso na
análise política.
Que Calheiros queira salvar a pele chamuscadíssima, é humano.
Mas poderia ao menos ter algum
decoro ao fazê-lo.
crossi@uol.com.br
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