São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Foguetório

Incontinência verbal e disparates marcam declarações de ministros do governo Lula sobre temas polêmicos

FOGOS de artifício não são fora de propósito nesta época do ano, mas o primeiro escalão do governo Lula tem-se caracterizado por excessos de estrépito e pirotecnia. Os resultados estão longe de se mostrarem deslumbrantes.
O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, abriu a fila no início da semana, declarando que "acabou a moleza dos usineiros do Nordeste". O petardo retórico veio a propósito de uma elevada multa por crimes ambientais aplicada às usinas de cana-de-açúcar de Pernambuco.
Nada mais correto do que reprimir os danos causados ao pouco que resta da Mata Atlântica. Todavia, a mesma multa foi aplicada indiscriminadamente às 24 usinas do Estado, uma vez que o Ibama se diz impossibilitado de aferir as responsabilidades específicas de cada uma delas. Tudo indica, assim, que tende a ser fugaz o brilho da investida, face às contestações judiciais que previsivelmente deflagrará.
No mesmo dia em que Minc hasteava a bandeira contra os usineiros, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, dava novas mostras de que a coerência não predomina nos arraiais governistas.
A região amazônica, disse Jobim, "não pode ser uma coleção de árvores para o lazer de estrangeiros". Acrescentou que, "se nós considerarmos a Amazônia como uma reserva ambiental absoluta, nós precisamos matar os 21 milhões de pessoas que moram lá". O costumeiro procedimento de caricaturar o ambientalismo para melhor atacá-lo já contou com formulações menos esfarrapadas do que esta.
O disparate em torno do assunto elevou-se a novas altitudes, entretanto, com as últimas considerações do presidente Lula. Entoando o estribilho da "internacionalização da Amazônia", Lula julgou apropriado levantar um bizarro contra-exemplo: "Ninguém quer internacionalizar a Nasa". Fosse, ao menos, o Alasca... mas a vertiginosa parábola do raciocínio intimida qualquer esforço de interpretação.
Perdido no horizonte o enigmático balão de ensaio do Planalto, a atenção do observador pode passar ao âmbito mais terreno do gabinete do ministro da Justiça, Tarso Genro, onde não faltaram ocasionais despropósitos e estalos de salão. O tema foram as críticas do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a vazamentos de informações, na sua opinião intimidatórios, feitos pela Polícia Federal.
Na Polícia Federal? "Lá não tem vazamento", disse Tarso Genro. "Não é regra vazamento", complementou. Na dúvida, os que acompanham o cotidiano do governo Lula farão bem se taparem os ouvidos.


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