São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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CLÓVIS ROSSI

Gravata, luzes e uma dúvida

TÓQUIO - Estranhei quando, na sexta-feira, Tomohiko Taniguchi, subsecretário de Imprensa do Ministério japonês de Assuntos Exteriores, me recebeu sem paletó e sem gravata em plena sede do ministério, contrariando o formalismo associado a servidores públicos, em especial no Japão.
Depois descobri que o governo japonês adotou o "cool biz" ("negócio frio"). Calma, brasileiro maroto, não é o que você está pensando. Esfriar o negócio significa que, nos meses de verão, é obrigatório trabalhar sem paletó e gravata. A lógica é simples: menos vestido, o funcionário aceita um ar condicionado menos frio, com o que o país economiza energia.
O mecanismo faz parte de todo um esforço para reduzir o consumo de energia. Os especialistas dizem que o Japão é, de todos os países ricos, o único que realmente manteve de pé a austeridade energética adotada nos anos 70 por conta do choque do petróleo (com o petróleo a US$ 145 o barril, o choque dos 70 parece cócega).
Amanhã, haverá outro movimento simbólico: no dia em que começa a cúpula do G8, o clubão dos sete países mais ricos do mundo aos quais se junta a Rússia, os japoneses estão convidados a apagar as luzes durante duas horas.
Segundo o jornal "The Yomiuri Shimbun", há estimativas de que se todos os cerca de 49 milhões de lares japoneses apagarem suas luzes por esse tempo, as emissões de gases que provocam o aquecimento global poderiam ser reduzidas em 15 mil toneladas, o que eqüivale às emissões de 1 milhão de residências por dia.
O apagão voluntário está em vigor desde 2003.
Se fosse no Brasil, suspeito que: 1 - O pessoal iria, sim, sem paletó e gravata, mas o ar condicionado ficaria no nível máximo do mesmo jeito; 2 - Muita gente faria um "gato" para apagar só a luz do vizinho. Estou enganado?

crossi@uol.com.br


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