São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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CLAUDIA ANTUNES

Geni das florestas

RIO DE JANEIRO - Até há pouco tempo enaltecida por ter dado origem às propostas de um caminho para o desenvolvimento "saudável" e "sustentável" que não pusesse em risco recursos dos quais, diz o jargão, "depende o futuro da humanidade", a consciência ambiental está em baixa.
A legislação preservacionista, disseminada em todas as sociedades que se pretendem civilizadas a partir do movimento ecologista e das conferências e acordos internacionais sobre o tema, está sendo tratada no Brasil como uma espécie de Geni -condenada por antecipação a ser apedrejada como responsável pelo estrangulamento estrutural que em algum momento, prevê-se, deterá o crescimento da economia.
As primeiras investidas partiram de empresários, insatisfeitos com o ritmo lento do licenciamento de projetos industriais e de infra-estrutura. As queixas logo ecoaram entre alguns analistas econômicos. Anteontem, a ministra Dilma Rousseff afirmou que haverá risco de falta de energia se o início da construção de usinas permanecer estancado por falta de aprovação dos órgãos ambientais. Outras vezes, ela já reclamara do fato de o governo anterior ter licitado 45 usinas sem licença prévia.
O preocupante nessa ofensiva é que, na cacofonia das reclamações, fica difícil distinguir os que pretendem buscar solução para os entraves que dificultam a aplicação das leis daqueles que chegam perto de insinuar a possibilidade de um "jeitinho", um acordo que permita ignorar as salvaguardas ambientalistas.
Os entraves não são pequenos -vão do excesso de burocracia e da falta de estrutura nas entidades fiscalizadoras à superposição de ações judiciais nas esferas estadual e federal, passando pelo purismo de setores ecologistas. Mas há também o vício de achar que aqui as leis não são para valer e que um projeto mal concebido ambientalmente, que jamais seria apresentado em um país desenvolvido, pode ser aprovado no Brasil. Ter boa vontade para desenrolar esse novelo é um preço mínimo diante do risco de tragédias anunciadas.


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