|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLAUDIA ANTUNES
Geni das florestas
RIO DE JANEIRO - Até há pouco tempo enaltecida por ter dado origem às
propostas de um caminho para o desenvolvimento "saudável" e "sustentável" que não pusesse em risco recursos dos quais, diz o jargão, "depende o futuro da humanidade", a
consciência ambiental está em baixa.
A legislação preservacionista, disseminada em todas as sociedades que
se pretendem civilizadas a partir do
movimento ecologista e das conferências e acordos internacionais sobre o
tema, está sendo tratada no Brasil
como uma espécie de Geni -condenada por antecipação a ser apedrejada como responsável pelo estrangulamento estrutural que em algum momento, prevê-se, deterá o crescimento
da economia.
As primeiras investidas partiram
de empresários, insatisfeitos com o
ritmo lento do licenciamento de projetos industriais e de infra-estrutura.
As queixas logo ecoaram entre alguns analistas econômicos. Anteontem, a ministra Dilma Rousseff afirmou que haverá risco de falta de
energia se o início da construção de
usinas permanecer estancado por falta de aprovação dos órgãos ambientais. Outras vezes, ela já reclamara do fato de o governo anterior ter licitado
45 usinas sem licença prévia.
O preocupante nessa ofensiva é que,
na cacofonia das reclamações, fica
difícil distinguir os que pretendem
buscar solução para os entraves que
dificultam a aplicação das leis daqueles que chegam perto de insinuar
a possibilidade de um "jeitinho", um
acordo que permita ignorar as salvaguardas ambientalistas.
Os entraves não são pequenos
-vão do excesso de burocracia e da
falta de estrutura nas entidades fiscalizadoras à superposição de ações judiciais nas esferas estadual e federal, passando pelo purismo de setores
ecologistas. Mas há também o vício
de achar que aqui as leis não são para valer e que um projeto mal concebido ambientalmente, que jamais seria apresentado em um país desenvolvido, pode ser aprovado no Brasil.
Ter boa vontade para desenrolar esse
novelo é um preço mínimo diante do
risco de tragédias anunciadas.
Texto Anterior: Brasília - Eliane Cantanhêde: O caldo entornou Próximo Texto: José Sarney: Um tiro no pé Índice
|