São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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Resposta insuficiente

DOIS ANOS após o assassinato do brasileiro Jean Charles de Menezes pela polícia londrina, uma comissão independente divulgou na semana passada relatório em que faz duras críticas à corporação, em especial ao comissário assistente Andy Hayman, encarregado do setor de contraterrorismo.
O novo documento representa um avanço em relação às manobras que já foram feitas pela polícia e pela própria Promotoria para evitar punições. Fica, entretanto, muito aquém de dar um novo rumo ao caso.
Foram muitas e gritantes as falhas da Scotland Yard e do sistema de Justiça. Jean Charles foi seguido desde que saiu de casa. Ao contrário do que se aventou de início, não esboçou reação diante da abordagem nem usava trajes "suspeitos". Não foram poucas as oportunidades da polícia para repensar a estratégia antes de desferir oito tiros à queima-roupa no brasileiro rendido.
Igualmente lamentáveis foram as tentativas de acobertar os erros. É aí que, segundo o relatório, entra Hayman. Ele teria deliberadamente prestado informações enganosas ao chefe de polícia, Ian Blair, o que o teria levado a dar declarações erradas sobre o incidente. É possível, mas, dado o histórico de inverdades e manipulações, não seria absurdo enxergar no documento um esforço para preservar Blair, sacrificando o subalterno.
Um ano depois, veio a absurda decisão da Promotoria de não processar nenhum indivíduo, apenas a instituição policial, que pode ser condenada a pagar uma multa. Seria um caso inédito de efeito (o assassinato de Jean Charles) sem causa (responsáveis pelos tiros e pela forma desastrada como se conduziu a operação policial).
É lamentável constatar que a polícia britânica, outrora tomada como modelo em todo o mundo, tenha decaído tanto.


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