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CLÓVIS ROSSI
Um projeto, três modos de usar
SÃO PAULO - Cruzaram-se na segunda-feira, em Buenos Aires, três
presidentes com um sonho comum,
mas com maneiras de entendê-lo
diferentes, uma delas bastante diferente, aliás.
O sonho é o da integração sul-americana (ou, mais amplamente,
latino-americana).
Os presidentes -e seus modos de
sonhar o sonho- são:
1 - Luiz Inácio Lula da Silva - Não
escondeu que quer fazer da América do Sul um conglomerado tão integrado quanto a Europa, nominalmente citada como "beleza".
Mas essa América do Sul servirá
para integrar-se ao mundo, com
mais força, pelo menos teoricamente. Não por acaso, Lula lembrou que só Brasil e Argentina juntos têm 230 milhões. Poucos países
abrigam tanta gente. Menos ainda
contam com um setor agrícola tão
competitivo como os dois sócios
principais do Mercosul, fato também lembrado por Lula.
2 - Hugo Chávez - A idéia de um
destino comum é idêntica. Em comício na noite de anteontem, ao lado da presidente Cristina Fernández, chegou a dizer que Argentina e
Venezuela são um só país.
Mas a integração funciona, na sua
cabeça, como antídoto aos venenos
do capitalismo.
A "Pátria Grande" latino-americana integrar-se-ia a partir do socialismo do século 21.
Enquanto Lula pensa em cooperação, Chávez fala em confronto.
3 - Cristina Fernández de Kirchner fica no meio do caminho. No
atacado, segue o projeto Lula, desde
que a Argentina tenha tempo e condições para recuperar sua indústria, dizimada, é sempre bom lembrar, não pelos Kirchner nem por
políticas esquerdistas, mas pela
direita.
Nas presentes condições de temperatura e pressão, se algum desses
projetos tem chance de emplacar, é
o de Lula. Nele cabe o de Cristina,
mas não o de Chávez. Nem é juízo
de valor. São fatos da vida.
crossi@uol.com.br
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