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KENNETH MAXWELL
Fordlândia
NA MARGEM leste do rio Tapajós, o quinto maior tributário do Amazonas, no lado
oposto a Urucurituba, fica uma
vasta extensão de terras um dia conhecida como "Fordlândia".
O território é comparável em tamanho ao Estado de Connecticut.
Entre 1927, quando a área foi adquirida por Henry Ford, e 1945,
quando Henry Ford 2º, em um de
seus primeiros atos como presidente da Ford Motor Company, a
entregou ao governo brasileiro, a
Fordlândia foi cenário de uma impressionante experiência, relatada
em detalhes fascinantes por Greg
Grandin em seu novo livro.
Henry Ford era um homem singular. Nascido em uma fazenda no
Michigan em 1863, ele tinha 40
anos ao fundar a Ford Motor Company. Para todos os efeitos práticos, inventou a moderna indústria
automobilística ao padronizar a
produção em massa do Modelo T,
que, por volta dos anos 20, respondia por 50% do mercado de automóveis norte-americano.
Ele vivia frustrado com a política
interna e a cultura dos Estados
Unidos, com os sindicatos, Wall
Street, dança moderna, vacas, leite,
álcool e intervenções governamentais. Acreditava, porém, em "pagamento justo e em dinheiro pelo trabalho" e introduziu padrões sanitários e de saúde modernos para
seus trabalhadores.
A seringueira brasileira, Hevea
brasiliensis, oferece a mais pura e
elástica forma de látex. No final do
século 19, a borracha brasileira
atendia a 40% da demanda mundial. Manaus e Belém disputavam o
título de "Paris dos trópicos". Ford
acreditava que seria capaz de remodelar esse lucrativo comércio.
Mas a história da Fordlândia tem
por temas centrais a arrogância, as
teorias indevidamente aplicadas e
as consequências imprevistas.
Acima de tudo, a tentativa de
plantar seringueiras em estreita
proximidade, como em uma plantação de café, fracassou no Brasil,
porque permitia que as pragas agrícolas se espalhassem rapidamente.
As 70 mil sementes que Henry
Wickham havia contrabandeado
do Brasil em 1876 e incubado no
Real Jardim Botânico da Inglaterra, enquanto isso, forneceram as
mudas utilizadas como base para a
vasta expansão das plantações britânicas, francesas e holandesas de
seringueira na Ásia.
Quando Henry Ford 2º entregou
a Fordlândia ao governo brasileiro,
em 1945, a experiência de Ford havia fracassado na Amazônia. No
entanto, diante do ataque que hoje
vemos à floresta tropical, a usina de
energia arruinada, o salão de dança
abandonado, os restos do hospital
comunitário, os canos de água quebrados e em desuso e os pequenos e
asseados bangalôs restantes são indicação de que a visão de Henry
Ford quanto a uma Arcádia na selva era relativamente benigna.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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