São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011

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FERNANDO RODRIGUES

O paradoxo de Dilma

BRASÍLIA - Apesar das incertezas externas, o brasileiro médio ainda desfruta de uma bolha de prosperidade. Compra-se torradeira a prestações de R$ 10 ao mês e a perder de vista. O nível de emprego é alto. Muitos ex-pobres viajam de avião pela primeira vez, todos os dias.
Na política, uma leva de pesquisas reservadas mostram ao Planalto que a presidente Dilma Rousseff surfa numa onda de popularidade. Cada vez mais atenta ao marketing, ela aproveitou a roubalheira dentro de seu governo e saiu-se como paladina da ética. Imagem é tudo.
Apesar dessa conjuntura favorável, o mundinho da micropolítica convive com um paradoxo. No Congresso há um clima hostil.
Deputados e senadores governistas andam resmungando pelos cantos. Há um ambiente de tocaia por ali. "Espere até a primeira crise real" é a frase-síntese ouvida nos corredores -sempre em tom agônico e de ameaça velada.
Há uma razão objetiva e outra mais nebulosa para essa turma andar enfezada. O fato concreto é conhecido. Dilma não pagou ainda um centavo de real das emendas de congressistas ao Orçamento deste ano. No governo Lula, a média anual de desembolso nunca ficou abaixo de R$ 4 bilhões.
Mas dinheiro não é tudo. Os políticos tradicionais andam sem saber como perscrutar as intenções reais de Dilma sobre as alianças de 2012 e de 2014. Muito menos está clara a disposição da presidente para atuar na laboriosa tarefa de construir consensos nas disputas eleitorais de grandes capitais e governos estaduais. Essa é uma tarefa indelegável. Nenhum ministro poderá se dizer 100% autorizado a fechar negócios em nome do Planalto.
Ideli Salvatti, a nova articuladora de Dilma, tem superado as expectativas. Mas sozinha não será capaz de pacificar a base de apoio no Congresso sem uma ajuda mais decidida de sua chefe. Até lá, persistirá um ambiente esquisito e imprevisível na política em Brasília.

fernando.rodrigues@grupofolha.com.br


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