São Paulo, sábado, 06 de agosto de 2011 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A crise nos países ricos é uma oportunidade para países em desenvolvimento? NÃO Do PAC ao PAI GILSON SCHWARTZ A Vitor Gurman (1987-2011), "in memoriam". A economia brasileira viveu na era Lula uma oportunidade inédita de retomada do crescimento econômico sem constrangimentos externos. Superada a crise do endividamento externo, o governo comprometeu-se com a "aceleração do crescimento" (a presidenta Dilma elegeu-se como a "mãe do PAC"). Desde 2008, no entanto, a crise internacional exige mudanças de orientação. Diante do agravamento no cenário internacional em 2011, num contexto de inequívoca valorização cambial e pressões inflacionárias que dificultam a redução dos juros reais, é preciso mudar o rumo da política econômica. A crise global exige reorientação. Turvou-se o cenário. Não se trata de abrir mão do crescimento, mas é preciso pensar e agir mais em favor da sua sustentabilidade e qualidade. É urgente colocar a responsabilidade econômica e financeira em primeiro lugar. É urgente abandonar ufanismos do tipo "Brasil, ilha de tranquilidade" em meio à crise global. Imaginar que o Brasil e outros países em desenvolvimento podem o que as economias centrais não podem (acelerar o caminhão dos gastos públicos ou o dreno com subsídios fiscais) é arriscado: o voluntarismo pode fazer a inflação acelerar mais que o crescimento. Ser responsável é pensar no longo prazo, ainda que o curto prazo permita algumas bondades e a convivência com o real forte. Mas a inflação e os juros em alta já começaram a deprimir o varejo e o consumo de bens duráveis. É hora de fortalecer os canais de financiamento a investimentos e à ampliação da infraestrutura, ou seja, projetos de longo prazo que podem ter vida longa nos mercados de capitais e ampliar o raio da inovação financeira no financiamento imobiliário, gerador de emprego e renda. É hora de trocar o PAC pelo PAI -um plano de aceleração da inovação. Esse é o caminho da competitividade responsável. Alguns passos foram dados, com as ações no Ministério da Ciência e Tecnologia em favor da internacionalização do nosso "capital intelectual" (aperfeiçoamento tecnológico de empresas, trabalhadores e empreendimentos inovadores). Há desafios enormes no "front" educacional brasileiro, que está apenas engatinhando na realização de investimentos que promovam a conexão entre escolas, banda larga e mercado de trabalho. Responsabilidade fiscal, transparência no monitoramento de gastos públicos e subsídios, fortalecimento de projetos de longo prazo e inovadores, ainda que o crediário e o consumismo sejam menos vigorosos no curto prazo, são as diretrizes para as quais é urgente orientar nossa política econômica. A presidenta Dilma Rousseff tem a oportunidade histórica de ser a protagonista de ajustes estruturais na economia brasileira sem colocar em risco o compromisso com as metas inflacionárias nem abrir buracos negros nas contas públicas. É hora de a presidenta tornar-se a mãe do PAI. Antes que nos reste apenas o Pai Nosso. GILSON SCHWARTZ, economista, sociólogo e jornalista, foi assessor da presidência do BNDES (gestão Guido Mantega) e economista-chefe do Bank Boston no Brasil. É professor de iconomia na USP e membro do conselho de administração da Brazilian Finance and Real Estate. O autor é tio de Vitor Gurman, que morreu na semana passada depois de ser atropelado por um jipe na Vila Madalena. Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Ernesto Lozardo: Intensa luz no fim do túnel Próximo Texto: Painel do Leitor Índice | Comunicar Erros |
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