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KENNETH MAXWELL
Um pombinho entre corujas
UMA DAS peculiaridades da
história brasileira é que o
Sete de Setembro comemore um príncipe português que não
queria voltar para casa, foi parar no
Ipiranga devido a um surto de diarréia, declarou que "ficaria" no Brasil e, é claro, no final não foi isso
que fez.
Mas ele pelo menos era bonito.
Quanto a isso, a sabedoria popular
brasileira está certa, e os historiadores hoje envolvidos em esforços
de reabilitação de dom João 6º e de
sua consorte deficiente no quesito
beleza, a infanta Carlota Joaquina,
estão definitivamente errados.
Não é preciso especular a respeito.
Contamos com uma testemunha
ocular na pessoa de Laure Permon
Junot, uma beldade vivaz, descendente de uma família corsa e amiga
de infância de outro famoso filho
da Córsega, o imperador Napoleão
Bonaparte.
Laure Permon era casada com o
general Andoche Junot, que se tornou embaixador da França em
Portugal. Junot mais tarde comandou o exército francês que invadiu
Portugal em 1807, o evento que forçou a família real portuguesa a cruzar o Atlântico em direção ao Brasil, dando início ao processo que
culminaria no Sete de Setembro.
Junot era um dos mais valentes comandantes dos exércitos de Napoleão. Quando de seu casamento
com Laure Permon, Napoleão deu
ao casal 100 mil francos, e mais 100
mil francos quando nasceu a primeira filha deles.
Junot apresentou suas credenciais à corte portuguesa vestido no
esplendoroso uniforme de comandante dos Hussardos, que havia sido criado especialmente para que
ele usasse na cerimônia de coroação de Napoleão. Junot não teve
impressão favorável sobre a família
real portuguesa. "Mon Dieu", ele
exclamou a Laure quando voltou
para casa. "Como o príncipe (dom
João) é feio! Mon Dieu! Como é
feia a princesa (Carlota Joaquina)!
Mon Dieu! Como eles todos são
feios! Não há um rosto atraente em
toda a família, a não ser o do príncipe real (Dom Pedro)... Ele é um jovem bem apessoado, e parece um
pombinho em meio a uma ninhada
de corujas".
Um dia depois de sua apresentação à corte, o embaixador francês
recebeu uma mensagem em sua residência, indagando se Junot "poderia amavelmente emprestar seu
uniforme de hussardo para servir
de molde ao alfaiate de sua alteza".
Dom Pedro queria uma cópia. Com
base nisso, o relativismo da nota divulgada na semana passada pelo
Alto Comando do Exército brasileiro, afirmando que a história
"tem diferentes interpretações, dependendo da ótica de seus protagonistas", está parcialmente correto.
Como no caso do amor de dom Pedro pelos uniformes, muita coisa
depende do ponto de vista.
KENNETH MAXWELL escreve às quintas-feiras
nesta coluna.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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