São Paulo, quinta-feira, 06 de setembro de 2007

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Começando uma era de novos campeões

KLAUS SCHWAB

Temos de nos preparar para uma fase de adaptação, com economias industrializadas envelhecidas ao lado de mercados jovens crescentes

EMBORA MUITAS pessoas tentem evitá-las, as mudanças são parte da condição humana. Os consultores promovem transformações. Os poetas as lamentam. Os historiadores as registram. E, apesar de uma aversão natural, indivíduos e comunidades freqüentemente desafiam expectativas com sua capacidade de se adaptarem a novos tempos.
Mesmo assim, raramente vislumbramos tal elasticidade em empresas e nações. Isso é preocupante. Muitos líderes não percebem que estão diante de uma mudança na equação de poder que, cedo ou tarde, deve testar a resistência de suas instituições.
Mas nem todos estão distantes dessa tendência. Neste ano, em Davos (Suíça), a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu que "é fato que um novo equilíbrio de poder está nascendo". É uma constatação profunda, especialmente vinda da anfitriã da última cúpula do G8. Embora o grupo dos oito países mais industrializados do mundo represente mais de 60% da economia global, a constatação de Merkel se baseia no fato de a China e a Índia -que não são do G8- serem hoje o motor do crescimento futuro. Assim, não será surpreendente quando, em curto período, um grupo totalmente inesperado de companhias, cidades e regiões surgir como "novos campeões" da economia. O desafio desse cenário é mudar as percepções pelo mundo.
De um lado, cada vez mais lojistas e hoteleiros da Europa e da América do Norte reconhecem que o número crescente de turistas exigentes vindos da Índia, da Rússia e da China é muito lucrativo. Do outro, instituições multilaterais, como a OMC e o Banco Mundial, demonstram preocupação com o fato de as economias de crescimento rápido, que criam tais turistas, também estarem procurando maior influência na governança da economia global -apesar do fato de a Ásia possuir mais de US$ 3 trilhões em reservas de moeda estrangeira.
O historiador J.M. Roberts observou que examinamos algo que passou só quando já não existe mais e que as "sociedades não reconhecem um regime como passado até haver a percepção de alguma mudança concreta". Assim, ainda é muito cedo para falar do G8 como um regime antigo.
Existe uma confiança no fato de que a "civilização ocidental" será imitada e adotada pelo resto do planeta. O pensamento convencional prega que os "novos campeões" devem emergir naturalmente de uma transferência nas bases de poder.
Ninguém considera que as civilizações chinesa ou hindu, para citar dois exemplos, poderão dominar a cultura ocidental e nossas influências econômicas. Mas a realidade é que nenhuma empresa ou economia poderá desfrutar de vantagens em todas as áreas para sempre.
O que fazer, então? Devemos nos proteger da concorrência econômica? Transformação é, novamente, o centro da condição humana, e temos de nos preparar para um período de adaptação, com um futuro que inclui economias industrializadas envelhecidas ao lado de mercados jovens em rápido crescimento. Sem isso, com certeza haverá confronto.
O World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) trabalha para mudar pensamentos, criando uma abordagem de crescimento na qual todos ganhem. A chave é permitir colaboração e competitividade. Hoje, os grandes interessados são membros do fórum, que representam as mil maiores empresas do mundo.
Nos últimos 30 anos, o grupo pertenceu ao empresariado. Porém, nossa agenda comum para as próximas três décadas será moldada com base em laços profundos com Ásia, Oriente Médio, África e América Latina, regiões em que devem nascer as companhias de crescimento do futuro.
É importante a percepção, por parte dos futuros líderes, do que significa ser um cidadão corporativo global.
Eles devem herdar um ambiente cheio de desafios, como mudança climática, desigualdade de renda, escassez de recursos naturais. Além disso, o verdadeiro líder exigirá que multinacionais chinesas, indianas, russas e brasileiras meçam sua contribuição para a sociedade e o meio ambiente com atividades, investimentos sociais e programas filantrópicos.
É nesse contexto que o fórum procura atingir a próxima geração de empresas emergentes e economias de crescimento rápido de todos os continentes. Nesse final de semana, acontece a primeira reunião anual de "novos campeões". Sediado em Dalian, na China, o evento já é popularmente conhecido como "Davos de verão" pela imprensa chinesa.
Veremos se esses campeões se adaptam ao "espírito de Davos". No mínimo, o primeiro passo para mudar pensamentos começa com o envolvimento da próxima geração de líderes empresariais.


KLAUS SCHWAB, 69, doutor em engenharia mecânica e em economia, ex-professor de políticas de negócios na Universidade de Genebra (Suíça), é fundador e presidente-executivo do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) e co-fundador da Fundação Schwab.

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