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TENDÊNCIAS/DEBATES
Começando uma era de novos campeões
KLAUS SCHWAB
Temos de nos preparar para uma fase de adaptação, com economias industrializadas envelhecidas ao lado de mercados jovens crescentes
EMBORA MUITAS pessoas tentem evitá-las, as mudanças são
parte da condição humana. Os
consultores promovem transformações. Os poetas as lamentam. Os historiadores as registram. E, apesar de
uma aversão natural, indivíduos e comunidades freqüentemente desafiam expectativas com sua capacidade de se adaptarem a novos tempos.
Mesmo assim, raramente vislumbramos tal elasticidade em empresas
e nações. Isso é preocupante. Muitos
líderes não percebem que estão diante de uma mudança na equação de poder que, cedo ou tarde, deve testar a
resistência de suas instituições.
Mas nem todos estão distantes dessa tendência. Neste ano, em Davos
(Suíça), a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, advertiu que "é fato que
um novo equilíbrio de poder está nascendo". É uma constatação profunda,
especialmente vinda da anfitriã da última cúpula do G8.
Embora o grupo dos oito países
mais industrializados do mundo represente mais de 60% da economia
global, a constatação de Merkel se baseia no fato de a China e a Índia -que
não são do G8- serem hoje o motor
do crescimento futuro. Assim, não será surpreendente quando, em curto
período, um grupo totalmente inesperado de companhias, cidades e regiões surgir como "novos campeões"
da economia. O desafio desse cenário
é mudar as percepções pelo mundo.
De um lado, cada vez mais lojistas e
hoteleiros da Europa e da América do
Norte reconhecem que o número
crescente de turistas exigentes vindos da Índia, da Rússia e da China é
muito lucrativo. Do outro, instituições multilaterais, como a OMC e o
Banco Mundial, demonstram preocupação com o fato de as economias
de crescimento rápido, que criam tais
turistas, também estarem procurando maior influência na governança da
economia global -apesar do fato de a
Ásia possuir mais de US$ 3 trilhões
em reservas de moeda estrangeira.
O historiador J.M. Roberts observou que examinamos algo que passou
só quando já não existe mais e que as
"sociedades não reconhecem um regime como passado até haver a percepção de alguma mudança concreta". Assim, ainda é muito cedo para falar do G8 como um regime antigo.
Existe uma confiança no fato de
que a "civilização ocidental" será imitada e adotada pelo resto do planeta.
O pensamento convencional prega
que os "novos campeões" devem
emergir naturalmente de uma transferência nas bases de poder.
Ninguém considera que as civilizações chinesa ou hindu, para citar dois
exemplos, poderão dominar a cultura
ocidental e nossas influências econômicas. Mas a realidade é que nenhuma empresa ou economia poderá desfrutar de vantagens em todas as áreas
para sempre.
O que fazer, então? Devemos nos
proteger da concorrência econômica? Transformação é, novamente, o
centro da condição humana, e temos
de nos preparar para um período de
adaptação, com um futuro que inclui
economias industrializadas envelhecidas ao lado de mercados jovens em
rápido crescimento. Sem isso, com
certeza haverá confronto.
O World Economic Forum (Fórum
Econômico Mundial) trabalha para
mudar pensamentos, criando uma
abordagem de crescimento na qual
todos ganhem. A chave é permitir colaboração e competitividade. Hoje, os
grandes interessados são membros
do fórum, que representam as mil
maiores empresas do mundo.
Nos últimos 30 anos, o grupo pertenceu ao empresariado. Porém, nossa agenda comum para as próximas
três décadas será moldada com base
em laços profundos com Ásia, Oriente Médio, África e América Latina, regiões em que devem nascer as companhias de crescimento do futuro.
É importante a percepção, por parte dos futuros líderes, do que significa
ser um cidadão corporativo global.
Eles devem herdar um ambiente
cheio de desafios, como mudança climática, desigualdade de renda, escassez de recursos naturais. Além disso,
o verdadeiro líder exigirá que multinacionais chinesas, indianas, russas e
brasileiras meçam sua contribuição
para a sociedade e o meio ambiente
com atividades, investimentos sociais
e programas filantrópicos.
É nesse contexto que o fórum procura atingir a próxima geração de empresas emergentes e economias de
crescimento rápido de todos os continentes. Nesse final de semana, acontece a primeira reunião anual de "novos campeões". Sediado em Dalian,
na China, o evento já é popularmente
conhecido como "Davos de verão" pela imprensa chinesa.
Veremos se esses campeões se
adaptam ao "espírito de Davos". No
mínimo, o primeiro passo para mudar
pensamentos começa com o envolvimento da próxima geração de líderes
empresariais.
KLAUS SCHWAB, 69, doutor em engenharia mecânica e
em economia, ex-professor de políticas de negócios na
Universidade de Genebra (Suíça), é fundador e presidente-executivo do World Economic Forum (Fórum Econômico Mundial) e co-fundador da Fundação Schwab.
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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