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10% verde
Candidatura de Marina Silva esbarra nos limites da agenda ambiental, incapaz de romper a onda desenvolvimentista cavalgada por Lula e Dilma
Aos poucos se torna evidente
que a candidatura da ex-ministra
do Meio Ambiente e senadora Marina Silva (PV) à Presidência da
República esbarrou num teto de
cerca de 10% nas pesquisas de intenção de voto. O desempenho limitado, até agora, decorre da precariedade de sua campanha, sobretudo do diminuto tempo de
TV, em comparação com os adversários do PT e do PSDB.
No entorno da candidata verde,
e mesmo fora do círculo de sua
campanha, havia certa expectativa de que mensagens mais programáticas e substanciais poderiam romper a moldura plebiscitária da eleição. O cerco marqueteiro ao debate de propostas logrou
substituí-las por imagens irreais e
promessas sem lastro.
Com o apoio de novas mídias,
esperavam os verdes galvanizar
parcelas crescentes do eleitorado,
a começar pelos jovens. Estes estariam mais abertos a considerar
as questões centrais do país sob a
ótica da sustentabilidade, com ênfase em problemas ambientais.
Em lugar de crescimento pelo
crescimento, Marina se pauta por
uma noção de desenvolvimento
mais larga. Para além da economia, incorpora a ela temas como
qualidade de vida, realizações humanas e preservação de recursos
naturais para gerações futuras.
A julgar pela reação do eleitorado até aqui, a mensagem verde
não ecoou. Nem mesmo entre os
que têm de 16 a 24 anos a candidata do PV alcança vantagem significativa. Segundo o Datafolha, 20%
das intenções de voto que lhe são
dedicadas provêm dessa faixa etária, fatia praticamente igual à representada pelo grupo no total da
amostra (19%).
Além de não sensibilizar a juventude, Marina Silva tampouco
consegue falar para o Brasil demograficamente mais relevante. As
intenções de voto que atrai se concentram nas camadas de maior escolaridade e renda nas capitais.
No Nordeste, por exemplo, sua penetração é diminuta.
Junto à população mais pobre
do país, não há páreo para o efeito
avassalador da progressão do salário mínimo e da distribuição de
benefícios sociais como Bolsa Família. Para esses brasileiros, é indubitável que a vida melhorou
nos oito anos de governo Lula. Os
dividendos políticos do avanço
social são colhidos por Dilma
Rousseff nas urnas.
José Serra não tem conseguido
conter a maré lulista, mesmo comprometendo-se a manter seu curso. Não se concebe, assim, que
Marina Silva, só com um partido
débil e propostas de rever a própria noção de crescimento econômico (o que para muitos se traduz
como um esforço para contê-lo),
possa ter mais sucesso.
Marina abriu mão de uma reeleição mais ou menos tranquila
para o Senado em favor de uma
candidatura presidencial com
chances mínimas. Atribuiu-se a
missão de aprofundar o debate,
muito necessário, sobre qual feição assumiria o desenvolvimento
do país em direção a uma economia de baixo carbono.
Serão necessárias uma ou mais
eleições para que Marina Silva
consiga se fazer ouvir. Nada demais para quem passou 16 anos
no Senado e no governo falando
quase sempre para as paredes.
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