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São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2003

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VINICIUS TORRES FREIRE

20 anos de crise

SÃO PAULO - Faz 20 anos que o Brasil está em crise. 1983 foi a reta final da ruína da ditadura e do Brasil grande, país do futuro. Foi o ano em que a oposição ganhou os principais Estados. Ano de saques, de povo na rua, do início da campanha das diretas, pico de recessão medonha. A economia encolheu 6% entre 81 e 83.
Foi o fim de um modelo de crescimento que durou 50 anos. Desde então, este país conservador se vê às voltas com uma equação insolúvel: dar coerência à mistura de democracia, economia excludente, desigualdade e gasto público limitado e injusto.
A Carta de 1988 foi uma tentativa retórica de combinar essa economia pobre e excludente com direitos universais sem limitar a apropriação de riqueza pela elite. O Plano Cruzado (1986) era um delírio similar. A Carta de 88 e o Cruzado resultaram no colapso inflacionário, econômico e político (Collor) de 1989-92.
FHC foi eleito e reeleito na esteira de uma bolha de crescimento de 22% (1993-98), financiada por meio de dívida pública, que pagou a ficção do real forte e a esmola compensatória para os pobres, pois a economia continuava a concentrar renda.
Nesses 20 anos, paulistas e anexos (ex-esquerda, intelectuais, altos burocratas públicos e privados, sindicalistas) quase sempre estiveram no poder. Desde Collor, a política econômica é mais ou menos a mesma.
A política é ficção. O PT é o que se vê, o PFL liberal ajudou a inchar e a falir o Estado, os tucanos dão quadros ao poder econômico do dia. O adesismo de resultados e o racha de PFL e PSDB outra vez mostram que o sistema político é um bipartidarismo de oportunidade, que se amolda ao conservantismo social. Há só o partido do governo e a oposição (caciquias regionais que sobram). Os movimentos sociais têm influência marginal ou são administrados na forma de ONGs apêndices do Estado.
O que, quem, vai romper a ficção social, política, econômica: esmola para pobres, apropriação do Estado por ricos e parte da classe média, economia excludente? Isso tem futuro?


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