|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VINICIUS TORRES FREIRE
20 anos de crise
SÃO PAULO - Faz 20 anos que o Brasil está em crise. 1983 foi a reta final
da ruína da ditadura e do Brasil
grande, país do futuro. Foi o ano em
que a oposição ganhou os principais
Estados. Ano de saques, de povo na
rua, do início da campanha das diretas, pico de recessão medonha. A economia encolheu 6% entre 81 e 83.
Foi o fim de um modelo de crescimento que durou 50 anos. Desde então, este país conservador se vê às voltas com uma equação insolúvel: dar
coerência à mistura de democracia,
economia excludente, desigualdade e
gasto público limitado e injusto.
A Carta de 1988 foi uma tentativa
retórica de combinar essa economia
pobre e excludente com direitos universais sem limitar a apropriação de
riqueza pela elite. O Plano Cruzado
(1986) era um delírio similar. A Carta
de 88 e o Cruzado resultaram no colapso inflacionário, econômico e político (Collor) de 1989-92.
FHC foi eleito e reeleito na esteira
de uma bolha de crescimento de 22%
(1993-98), financiada por meio de dívida pública, que pagou a ficção do
real forte e a esmola compensatória
para os pobres, pois a economia continuava a concentrar renda.
Nesses 20 anos, paulistas e anexos
(ex-esquerda, intelectuais, altos burocratas públicos e privados, sindicalistas) quase sempre estiveram no poder. Desde Collor, a política econômica é mais ou menos a mesma.
A política é ficção. O PT é o que se
vê, o PFL liberal ajudou a inchar e a
falir o Estado, os tucanos dão quadros ao poder econômico do dia. O
adesismo de resultados e o racha de
PFL e PSDB outra vez mostram que o
sistema político é um bipartidarismo
de oportunidade, que se amolda ao
conservantismo social. Há só o partido do governo e a oposição (caciquias
regionais que sobram). Os movimentos sociais têm influência marginal
ou são administrados na forma de
ONGs apêndices do Estado.
O que, quem, vai romper a ficção
social, política, econômica: esmola
para pobres, apropriação do Estado
por ricos e parte da classe média, economia excludente? Isso tem futuro?
Texto Anterior: Editoriais: FRAUDE E CASTIGO Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: CPIs podres Índice
|