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CARLOS HEITOR CONY
Na boca das Matildes
RIO DE JANEIRO - Em crônica na semana passada, lamentei o mal-estar
político e pessoal que se criara entre a
governadora Rosinha Matheus e o
prefeito Cesar Maia. Sem entrar no
mérito da questão, lembrei o óbvio,
citando Machado de Assis: "Somos
todos fluminenses". De que adianta
ao vencedor ficar com as batatas?
No sábado, vi os dois litigantes novamente juntos, em companhia do
Carlos Arthur Nuzman, do Comitê
Olímpico Brasileiro, dando os primeiros passos para os eventos esportivos, em nível mundial, que se realizarão nos próximos anos no Estado e
na cidade do Rio de Janeiro.
Numa hora dessas, diante de um
desafio com data marcada para
acontecer, quando o mundo todo estiver ligado ao Brasil, não poderemos
fazer feio, dando o monstruoso espetáculo de incompetência administrativa e despreparo de nossas lideranças públicas. O Rio até que tem uma
boa tradição em realizar grandes
eventos, desde a chegada de dom
João 6º, em 1808, à Exposição do Centenário, em 1922, à Taça Jules Rimet,
em 1950, à Eco-92, que reuniu em
perfeita ordem e numa cidade limpa
e ordeira mais de cem chefes de Estado do mundo todo.
Lembro da campanha de Mário Filho pela construção do estádio que
hoje tem o seu nome. A autorização
legislativa para que o prefeito Mendes de Morais pisasse na tábua e erguesse aquele colosso no Maracanã
foi de autoria de um vereador da
oposição, Ary Barroso, que teve o
apoio da bancada comunista, então
majoritária e que também fazia feroz
oposição ao prefeito e ao presidente
na ocasião, o marechal Dutra.
Em momentos assim, é intolerável
pensar que divergências pessoais ou
políticas possam prejudicar a imagem do Brasil, retardando ou impedindo dois acontecimentos mundiais
que colocarão o Brasil na boca das
Matildes que existem em todo o
mundo. A prefeita de São Paulo,
compreendendo isso, foi a primeira a
prometer a colaboração de que o Rio
certamente precisará para não dar
vexame.
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