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ELIANE CANTANHÊDE
Sem linchamento
BRASÍLIA - A cada dia aumenta a
versão de que o Legacy e os pilotos
Joe Lepore e Jan Palladino foram
os principais responsáveis pela
queda do Boeing da Gol, matando
154 pessoas. Mas é preciso cautela e
serenidade para não precipitar um
veredicto e não produzir um linchamento público permeado de passionalidade contra os yankees.
O plano de vôo do Legacy previa
que ele baixasse de 37 mil para 36
mil pés a partir de Brasília, até porque essa é a altitude obrigatória no
sentido Manaus. Mas o avião se
manteve em 37 mil pés, até agora
inexplicavelmente.
O Legacy e o Boeing-737/800 são
de última geração e dispõem de um
instrumento que impediria o choque: o transponder, que emite sinais para um sistema que alerta os
pilotos, visual e sonoramente, para
a aproximação de qualquer objeto.
Caso eles não "acordem", rouba o
controle do vôo e promove o desvio
automaticamente. Mas o transponder do Legacy estava desligado, até
agora inexplicavelmente.
Ao perceber, o Cindacta-1, em
Brasília, também moderníssimo,
tentou contato com o Legacy várias
vezes, e vice-versa. Sem resposta,
até agora inexplicavelmente.
Há certezas sobre o que ocorreu.
Mas não sobre como e por que ocorreu. Houve falha mecânica ou humana no erro de altitude, no desligamento do transponder e na falta
de comunicação? E, afinal, qual a
responsabilidade do sistema de
controle do tráfego aéreo?
Calma lá antes de o jornalista Joe
Sharkey acusar os brasileiros e de o
Brasil se unir num "movimento cívico" de revanche. Acidente é acidente, ocorre todo dia, em todo lugar. É preciso saber exatamente o
que aconteceu e se houve falha mecânica, imperícia ou negligência. E
que os responsáveis respondam por
elas, como resposta às famílias e para evitar novas vítimas.
Mas sem uma guerra entre brasileiros e americanos. Ninguém quer
linchar ninguém. Ou quer?
elianec@uol.com.br
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