São Paulo, sexta-feira, 06 de outubro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Sem linchamento

BRASÍLIA - A cada dia aumenta a versão de que o Legacy e os pilotos Joe Lepore e Jan Palladino foram os principais responsáveis pela queda do Boeing da Gol, matando 154 pessoas. Mas é preciso cautela e serenidade para não precipitar um veredicto e não produzir um linchamento público permeado de passionalidade contra os yankees.
O plano de vôo do Legacy previa que ele baixasse de 37 mil para 36 mil pés a partir de Brasília, até porque essa é a altitude obrigatória no sentido Manaus. Mas o avião se manteve em 37 mil pés, até agora inexplicavelmente.
O Legacy e o Boeing-737/800 são de última geração e dispõem de um instrumento que impediria o choque: o transponder, que emite sinais para um sistema que alerta os pilotos, visual e sonoramente, para a aproximação de qualquer objeto.
Caso eles não "acordem", rouba o controle do vôo e promove o desvio automaticamente. Mas o transponder do Legacy estava desligado, até agora inexplicavelmente.
Ao perceber, o Cindacta-1, em Brasília, também moderníssimo, tentou contato com o Legacy várias vezes, e vice-versa. Sem resposta, até agora inexplicavelmente.
Há certezas sobre o que ocorreu. Mas não sobre como e por que ocorreu. Houve falha mecânica ou humana no erro de altitude, no desligamento do transponder e na falta de comunicação? E, afinal, qual a responsabilidade do sistema de controle do tráfego aéreo?
Calma lá antes de o jornalista Joe Sharkey acusar os brasileiros e de o Brasil se unir num "movimento cívico" de revanche. Acidente é acidente, ocorre todo dia, em todo lugar. É preciso saber exatamente o que aconteceu e se houve falha mecânica, imperícia ou negligência. E que os responsáveis respondam por elas, como resposta às famílias e para evitar novas vítimas.
Mas sem uma guerra entre brasileiros e americanos. Ninguém quer linchar ninguém. Ou quer?


elianec@uol.com.br

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