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FERNANDO DE BARROS E SILVA
São Paulo, 2010
SÃO PAULO - Da figura obscura
de três meses atrás ao candidato
que sai das urnas favorito para faturar a eleição em São Paulo -ou de
"Gilberto quem?!" a Kassabão-, o
prefeito Gilberto Kassab encarna
como ninguém a vitória da máquina sobre o voluntarismo político.
Alckmin tinha a seu favor o recall
da campanha de 2006. Foi à luta
montado num jipe, abraçado a meia
dúzia de amigos (alguns da onça),
dizendo a si mesmo que cumpria
uma missão. Termina sua cruzada
política encolhido e humilhado, como um quixote em miniatura.
O bonde de Kassab lhe tirou os
aliados, o apoio de Serra e do PSDB,
a estrutura de campanha, os marqueteiros, o tempo na TV, o dinheiro e, finalmente, os votos.
E agora? Agora Marta, muito
pouco fustigada no primeiro turno,
é quem precisará tirar um coelho da
cartola para virar o jogo. A mágica é
dificílima. Como mostra o cientista
político Fernando Limongi, o mercado eleitoral está muito previsível
e, embora notável, o desempenho
do PT em São Paulo está batendo
no teto. O eleitorado paulistano é
estável e inclinado para a direita.
Nossa época, além disso, confinou a política a uma espécie de administrativismo com verniz social.
Discute-se se a piscina do meu CEU
é maior que a sua ou quantas creches fulano prometeu inaugurar. O
atual consenso conservador permite que Kassab se aproprie da retórica da era Lula e tire proveito, ao
mesmo tempo, da rejeição do eleitorado a Marta e ao PT.
Assistiremos nas próximas semanas ao duelo entre duas máquinas: a
petista (federal) e a demo-tucana
(local). Haverá pressão para arrastar Lula e Serra ao centro do ringue.
Talvez compareçam mais do que
gostariam e menos do que seus afilhados desejam. Seja como for, as
razões da escolha do eleitor podem
ser locais, mas as implicações da
disputa paulistana são nacionais.
A vitória de Kassab (além do revés de Aécio em Minas) consolidará
Serra como líder da oposição ao PT
para 2010. Quem gosta de datas pode anotar: a sucessão do Lulinha
paz e amor começou ontem.
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