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RUY CASTRO
Pelados pelo avesso
RIO DE JANEIRO - Há um cadáver pendurado em cada poste nas
esquinas do Rio. Não um cadáver de
verdade, como os produzidos nos
morros e quebradas do tráfico, mas
os expostos nos estandartes que
anunciam a mostra "Corpo Humano - Real e Fascinante". Em 2007,
essa exposição foi visitada por 450
mil pessoas em São Paulo. Chega
agora ao Rio, sem faltar um cóccix
ou glândula pituitária.
E com um aparato inédito. Graças à medida do prefeito Kassab,
que livrou São Paulo de outdoors,
cartazes, faixas e outros detritos urbanos, os paulistanos não tiveram
as ruas decoradas com as imagens
dos corpos dissecados. Quem quisesse vê-los -ao vivo, com perdão
pelo oximoro-, que fosse à Oca, no
Ibirapuera. No Rio, que ainda não
adotou o Cidade Limpa, dispensa-se ir ao Museu Histórico -basta
sair de casa e olhar em torno.
São como raios-X hiper-realistas,
em cores e 3-D, mostrando como
somos por dentro, do ponto de vista
muscular, nervoso, esqueletal, circulatório, digestivo, urinário e respiratório -uma espécie de strip-tease pelo avesso, com requintes de
"grand-guignol", inspirado por
Freddy Krueger.
Na museu, os 16 cadáveres que
servem de modelos e os 225 órgãos
avulsos podem ser realmente fascinantes -no item necrofilia ou para
quem tem um chiquê por fetos, tripas, tumores. Na rua, à porta de restaurantes, hospitais ou barbearias,
causa impressão o anúncio de um
cadáver com suas intimidades à vista. Eu próprio já começo a achar difícil entrar num estabelecimento e
pedir iscas de fígado ou miolos à milanesa. Steak tartare, nem pensar.
Os corpos na exposição são de
chineses e foram doados em vida.
Com a obsessão pela produtividade
que assola a China, é natural que alguns de seus cidadãos queiram continuar trabalhando mesmo depois
de mortos.
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