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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Marina
SÃO PAULO - Além de ter óbvio
apelo ecológico, a candidatura presidencial de Marina Silva parece
contar com uma espécie de combustível ético, como se viesse galvanizar uma insatisfação difusa de setores da sociedade diante das extravagâncias patrocinadas pela turma
de Lula em nome do pragmatismo.
Marina seria uma representante
da energia limpa contra a fuligem
produzida pela política petista, da
farra do mensalão à defesa de Sarney e sua camarilha. É sobre o desmatamento moral promovido pelo
lulismo que o mantra do desenvolvimento sustentável encontra terreno propício para vicejar.
Fernando Gabeira resumiu isso
numa frase: a senadora poderá ser a
depositária do "voto do sonho". Há
em torno dela, de fato, certa aura de
rousseaunismo, o mito do bom selvagem que se ergue contra a marcha cega do progresso e seu cortejo
de injustiças. Lula, a seu modo, ocupou esse lugar simbólico um dia.
Bastaria evocar essa memória para manter reservas em relação à nova utopia ecoética que nasce de
mais uma costela do PT. Além do
mais, e sem trocadilhos, o PV não é
nenhuma flor que se cheire. Seu
comportamento, muitas vezes, é
mais próprio das legendas nanicas
de aluguel do que daquelas minorias aguerridas que defendem a
unhas a sua trincheira ideológica.
Não parece ser nem entre os povos da floresta nem na massa de espoliados a quem Lula dá de comer
que Marina tende a colher seus frutos. A reparação histórica que ela
vocaliza é música que toca nos bares da Vila Madalena ou no Baixo
Gávea, seduzindo parte da classe
média progressista e sensível.
Que a candidata dessa esquerda
órfã de ideais seja também uma
evangélica com restrições ao aborto
e à pesquisa com células-tronco soa
como um sintoma gritante de uma
época confusa, em que progresso e
regressão social andam misturados.
Não é à toa que Marina procure se
manter equidistante de PT e PSDB,
esses inimigos que são dela e entre
si tão diferentes, mas tão iguais.
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